Banir bets da TV e de influenciadores é fundamental para a saúde pública
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A influenciadora Virginia Fonseca está depondo na CPI das Bets no Senado, nesta terça (13), sobre as campanhas publicitárias de apostas online que ela fez para seus mais de 53 milhões de seguidores no Instagram. Ela disse que alerta para o jogo responsável, mas, na prática, acaba contribuindo, ao lado de outros influenciadores, para aumentar esse problema de saúde pública.
Aliás, é uma brincadeira de mau gosto que publicidades multicoloridas, trazendo sorridentes influenciadores, prometendo mundos e fundos, sejam encerradas com o alerta "jogue com responsabilidade". Qualquer tigrinho com problemas de cognição sabe que as casas de apostas lucram exatamente com o comportamento compulsivo promovido por elas mesmas. Isso soa como um traficante na "cracolândia" vender uma pedra e alertar: fume com moderação.
Não faz sentido campanhas publicitárias de bets serem liberados e as do crack não, considerando que ambos causam mal à saúde de indivíduos e destroem famílias. O pior é que a jogatina está acessível a um celular de distância, com a benção do Estado brasileiro, enquanto comprar pedra oferece o risco de ser preso, assaltado ou morto.
Como exaustivamente alertado, essas plataformas estão construindo um caos social, principalmente entre os trabalhadores pobres - que perdem o dinheiro da própria sobrevivência acreditando que podem ficar ricos facilmente.
Em audiência pública convocada pelo Supremo Tribunal Federal, em novembro passado, para tratar das casas de apostas online, Luiz Augusto Santos Lima, subprocurador-geral da República, lembrou que já há mecanismos para limitar as propagandas. "Já foi feito isso com o cigarro e outros produtos. Por que não aplicar por um princípio de precaução nesse ambiente?"
Tenho defendido aqui a proibição total de anúncios de bets na TV, no rádio e na internet, mas também em estádio e nas camisas de times de futebol. No começo do ano, a TV Educativa da Bahia anunciou que não iria aceitar anúncios publicitários de bets nas transmissões do Campeonato Baiano de futebol e outros torneios cobertos pela empresa.
E o Ministério da Fazenda proibiu a presença de bets nas partidas da Copa São Paulo de Futebol Júnior, seja em uniformes, propagandas em estádios e em canais que transmitam os jogos. A justificativa adotada pela Secretaria de Prêmios e Apostas para isso é que a legislação veta como objeto de apostas os eventos esportivos de categorias de base.
O Congresso Nacional não deveria ter aprovado o funcionamento desse tipo de empresa, ainda mais sem a previsão de cobrança de impostos do tamanho do buraco na saúde pública e nas famílias que isso. E sem a proibição de anúncios e patrocínios que bombem o nome das bets. Ações tomadas agora não vão corrigir o estrago causado, mas podem mitigá-lo.
Há projetos apresentados para proibir a propaganda desses caça-níqueis digitais na TV, no rádio, nas redes sociais, nos portais e sites. Se o vício em crack, que faz tão mal quanto, não pode ser incentivado no intervalo da novela, o das apostas também não.
Muitos defendem que as bets ajudam a financiar o combalido jornalismo e precisamos ter parcimônia quanto a isso. Ironicamente, dinheiro de bets acaba financiando reportagens que denunciam o dano causado à vida dos brasileiros que jogam nas bets.
Há duas décadas, não convivemos mais com anúncios de tabaco na TV, nem em camisas de times de futebol apesar de cigarro ser vendido normalmente. E ninguém morreu por isso. Pelo contrário.