Leonardo Sakamoto

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Opinião

Ibama entrega desmatamento menor apesar de fogo amigo de governo e aliados

O Ibama e a gestão Marina Silva no Meio Ambiente conseguiram entregar dois anos seguidos de redução no desmatamento, apesar das pressões contrárias ao seu trabalho no Congresso Nacional, por governadores e prefeitos e pelo próprio governo Lula.

O desmatamento no Brasil caiu em todos os biomas, com exceção da Mata Atlântica, que permaneceu estável, pela primeira vez em seis anos. Segundo relatório anual do MapBiomas, divulgado nesta quinta (15), a queda foi de 32,4%, em 2024, em relação a 2023. Foi o segundo ano seguido de redução no ritmo de perda da cobertura vegetal.

A diminuição foi de 16,8% na Amazônia, 41,2% no Cerrado e 58,6% no Pantanal. Antes de cravar que temos uma mudança consistente na tendência, contudo, é preciso ver como será a temporada de incêndios este ano. Porque a pressão para deixar de lado o cumprimento da lei de olho na demanda mundial por carne, soja e milho vem sendo grande.

Os servidores envolvidos na fiscalização e nas demais políticas públicas voltadas à redução do desmatamento precisam ser saudados, contudo. Não apenas por fazerem o seu trabalho, mas por resistirem a essas pressões que vêm de todos os lados.

Um exemplo das dificuldades enfrentadas é a pressão do governador do Pará, Helder Barbalho, aliado do governo federal, e de representantes ruralistas à megaoperação contra desmatamento ilegal realizada pelo Ibama entre o final de abril e o começo de maio. Ela cruzou imagens de satélites com dados sobre propriedades que tinham ou não autorização para supressão de vegetação e embargou 70 mil hectares de quem apresentou irregularidades.

Sob intenso bombardeio, inclusive dentro do governo Lula, o presidente do órgão, Rodrigo Agostinho, disse que está disposto a revisar a megaoperação para sanar eventuais equívocos, mas sem compactuar com ilegalidades.

O Congresso Nacional, de uma maneira geral, é um grande vetor de desmatamento, pressionando pela impunidade de quem descumpre a lei e buscando formas de incentivar o desmatamento legal. Parte dos ruralistas faz parte de partidos da base do governo, mas isso não significa nada porque fazem oposição sistemática ao Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima.

Na próxima vez que você ouvir deputados e senadores lamentando mortos devido às cheias no Rio Grande do Sul e aos deslizamentos de terra no Rio e em Santa Catarina ou dizendo que sentem muito pelas secas na Amazônia e os incêndios no interior de São Paulo, lembrem-se que o chororô é mentira. Se fosse sincero, não tentariam conter o Ibama.

Políticos da esquerda e da direita se uniram em nome da exploração de uma nova província petrolífera na costa amazônica do Amapá, na chamada Margem Equatorial. Ao seu lado, contam com Magda Chambriand, presidente da Petrobras, a gigante petrolífera brasileira, e com o próprio Lula.

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Pressionam duramente o Ibama para liberar a autorização de perfuração. E depois criticam Donald Trump por pedir "perfure, querida, perfure" nos EUA.

"Nós vamos cumprir todos os ritos necessários para que não cause nenhum estrago na natureza, mas a gente não pode saber que tem uma riqueza embaixo de nós e não vai explorar, até porque dessa riqueza é que vamos ter dinheiro para construir a famosa e sonhada transição energética", afirmou o presidente.

Ou seja, precisamos promover o efeito estufa para ter dinheiro para combater o efeito estufa.

Não bastasse o trabalho árduo para punir quem cometeu incêndios florestais, o Ibama também tem que enfrentar fogo amigo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL