Leonardo Sakamoto

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Opinião

Briga entre Trump e Musk é rara colonoscopia nas entranhas do poder nos EUA

Quando Elon Musk postou em sua conta no X, sua rede social, que o motivo de não terem tornado públicos os arquivos do empresário pedófilo Jeffrey Epstein é que Donald Trump aparece neles, dando a entender que o presidente era parte das festas regadas à exploração sexual de crianças traficadas, estava selando o fim do seu bromance com o presidente dos EUA. Pelo menos, por enquanto.

O estrume lançado no ventilador de parte a parte, contudo, tem seus benefícios. Não é todo o dia que temos uma colonocopia, o exame que vai a fundo nos intestinos, das entranhas da extrema direita do império.

A extrema direita brasileira, que já bajulou ambos incessantemente, deve ficar com o presidente por razões óbvias. Ele tem o poder político de fato e pode continuar fustigando o Supremo Tribunal Federal, onde Jair está sendo julgado por golpe.

Mas na briga entre Trump e Musk, deveríamos querer que as partes divulguem mais informações, pois elas trazem verdades. E ajudam a entender como a política funciona. E a força do dinheiro e do ressentimento, além da importância da saúde mental.

Não que esse tipo de divórcio não aconteça desde sempre, produzindo muito barulho quando alianças são rompidas. Mas, desta vez, tudo é feito usando as redes sociais dos próprios envolvidos - o X, de Musk, e a Truth Social, de Trump - como armas.

O bilionário saiu do governo (onde seu papel era demitir em massa servidores públicos e enfraquecer o Estado) atirando no projeto de orçamento de Trump, que vai cortar impostos de ricos e deve explodir o déficit público. Chamou-o de "abominação repugnante". O projeto, no caso. Detalhe: a proposta corta um benefício fiscal para quem comprasse carros elétricos da Tesla, sua empresa.

"A maneira mais fácil de economizar bilhões e bilhões de dólares em nosso orçamento é encerrar os subsídios e contratos governamentais de Elon Musk", respondeu Trump. "Sempre me surpreendi que Biden não tenha feito isso!" Uma das maiores prejudicadas seria a SpaceX.

O presidente disse que foi ele quem pediu para o dono da Tesla deixar o governo no final do mês passado e que estava decepcionado com o seu antes best friend forever. "Ajudei muito Elon", disse. Trump também revogou a indicação do agora ex-amigo para a chefia da Nasa.

Sim, o empresário com contratos bilionários com a Nasa queria indicar a chefia da agência.

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Musk retrucou dizendo "Sem mim, Trump teria perdido a eleição, os democratas controlariam a Câmara e os republicanos estariam em 51-49 no Senado". E chamou o comportamento do presidente de "ingratidão", afirmando que ajudou a eleger Trump - ele botou mais de R$ 1,4 bilhão na campanha.

Com a barafunda, os preços das ações das empresas de Musk caíram e os dos concorrentes subiram. Não é pela briga a questão, mas diante da constatação do afastamento do empresário dos benefícios de estar perto do poder.

O extremista Stephen Bannon, ex-assessor do presidente, já pediu para Trump para, além de cancelar os contratos de Musk, investigá-lo por uso de drogas - o jornal The New York Times revelou que o empresário faz uso sistemático de cetamina, um anestésico potente e que vicia que é uma loucura.

Considerando os envolvidos, não me surpreenderia se, mais adiante, eles fizessem as pazes. Aliás, os outros bilionários donos de big tech, que foram se curvar a Trump em troca de ajuda na guerra contra a regulação das plataformas digitais em todo o mundo, devem estar torcendo por um armistício.

Eu não. Torço para a briga.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL