Juventus barra conselheira em meio à discussão sobre venda de seu futebol

Ler resumo da notícia
Em mais uma batalha da guerra sobre a venda do futebol do Juventus, tradicional clube de São Paulo, a conselheira Eloísa Machado foi suspensa e impedida de entrar na sede após criticar a atual gestão. Isso acontece alguns dias antes de uma série de reuniões que poderão selar a transformação em SAF e a entrega do time para terceiros.
Machado, que é uma jurista nacionalmente conhecida e professora da FGV Direito, comentou, em uma postagem do Instagram do clube, que as contas do atual grupo no poder foram reprovadas, que há investigação sobre os fatos e que o presidente Tadeu Deradeli será responsabilizado. O grupo do qual ela faz parte é contra os planos de venda do futebol e perdeu a eleição pelo comando da entidade, realizada em abril. A coluna apurou que a eleição pode ser anulada, em razão de voto de conselheiros inabilitados.
Outros conselheiros também foram afastados e a oposição diz que está levando a situação novamente à Justiça.
A criação do Juventus Sociedade Anônima de Futebol (SAF) está na pauta há três anos. Com ela, tudo relativo ao futebol é transferido a uma nova pessoa jurídica: o clube teria uma participação mínima nas ações da nova sociedade e as demais são negociadas entre compradores, pessoas físicas, na Bolsa de Valores, a depender do modelo escolhido.
O clube tem dívidas, sobretudo oriundas do período da pandemia, e os defensores da venda do futebol apontam que ela traria investimentos, garantiria a reforma do estádio e levaria o time a dar um salto. Os críticos, contudo, apontam que as propostas na mesa querem vender tudo por um valor irrisório, o que não permitiria ao clube nem resolver suas pendências financeiras, e, ao mesmo tempo, levaria à perda definitiva do controle do futebol. Defendem outras formas de profissionalizar a gestão.
Tentativas anteriores foram barradas pelos conselheiros, que descobriram irregularidades em contratos relativos à SAF. Apontam que a escolha tem cartas marcadas e beneficiaria nomes ligados à Fifa.
As críticas de Machado constam de ações judiciais e já teriam sido expostas em reuniões do próprio conselho. Foi aberta uma sindicância e o caso segue em sigilo.
Juventus sem jogos oficiais neste ano
A situação da gestão do clube está impactando o seu futebol. Pela primeira vez desde que existe a Copa Paulista, há mais de 25 anos, o Juventus não participa do torneio que garante acesso aos torneios nacionais através da série D ou da Copa do Brasil.
Com a decisão de não entrar na disputa, o tradicional time da Mooca, que completou 101 anos, vencedor da série B do Brasileiro em 1983, do Campeonato Paulista, em 1934, e da própria Copa Paulista, em 2007, não tem mais jogos oficiais para este ano após ter caído na primeira fase da A2 do Campeonato Paulista.
A oposição, que teve que garantir na Justiça a realização de eleições no clube, chama a exclusão do time no campeonato de politicagem, desmonte e amadorismo. E que isso não é boa gestão, mas a promoção do sucateamento do futebol como parte de um processo para tentar vendê-lo.
O Juventus tem origem operária, assim como o bairro da Mooca. Trabalhadores das primeiras indústrias de São Paulo reunidos para construir algo comum. Tem um estádio tombado, histórico, palco de grandes lances do futebol, uma torcida apaixonada e uma multidão de admiradores — inclusive entre os fãs dos times grandes da capital. É um patrimônio de São Paulo, do país, que vai muito além dos gramados. Afinal, futebol não é só sobre futebol.