Leonardo Sakamoto

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Opinião

Moraes vai mandar Lula e Motta compartilharem a Camiseta da Amizade

O ministro Alexandre de Moraes convocou uma audiência de conciliação sobre a novela do IOF para o próximo dia 15, no Supremo Tribunal Federal, com as presidências da República, da Câmara e do Senado. Simbolicamente, exigirá que Lula, Hugo Motta e Davi Alcolumbre vistam a Camiseta da Amizade - ou pelo menos só os dois primeiros.

Podem até pedir desculpas e dar abraço um no outro, regras da camiseta, essa nobre instituição, mas será só da boca para fora. Dizer "eu te amo", a terceira regra da camiseta, depende de ações mais profundas.

Do lado da Câmara, isso viria com o ministro Flávio Dino avisando que chancela a impositividade do pagamento de emendas parlamentares, ou seja, o sequestro de parte do orçamento pelo Legislativo. Do Senado, seria mais fácil, com a paz sendo selada com a demissão do ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, e indicação do substituto por Alcolumbre.

O Congresso Nacional tem mais responsabilidade sobre a transformação de um debate técnico em uma barafunda política. Só não esperava que o troco do governo viria com uma campanha bem-feita, com vídeos produzidos com inteligência artificial, atribuindo ao parlamento o papel de defensor dos super-ricos.

Mas não deixa de ser no mínimo pitoresco que, logo após Moraes suspender todos os decretos e chamar os adultos a conversarem, tanto o governo federal quanto a Câmara tenham cantado vitória mesmo que a decisão do ministro tenha sido apenas para baixar a fervura.

Quando Montesquieu publicou "O Espírito das Leis", em 1748, tratando da separação entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, certamente não imaginou que o sistema de freios e contrapesos a fim de garantir que nenhum poder se torne dominante sobre os outros soaria como um pai ou mãe disciplinando a filharada que despirocou.

O fato de ser Moraes, considerado xerife de Brasília, a pessoa a mediar a situação, só traz mais um elemento de sitcom para o cenário. Nos próximos 11 dias, vai ser um longo beija-mão do ministro por membros do Executivo e do Legislativo, mas também por gente economicamente graúda - que tem interesse na briga e não costuma sujar as próprias mãos.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL