Ramagem aposta em ligar Paes à corrupção; prefeito tenta 'jogar parado'
O debate da Band, na noite de quinta (8), foi o primeiro da corrida eleitoral e já expôs as estratégias das campanhas para vencer a Prefeitura do Rio.
Eduardo Paes (PSD), que busca a reeleição, foi o alvo preferencial dos ataques. Apoiado pelo presidente Lula (PT), ele lidera as pesquisas de intenção de votos, seguido por Alexandre Ramagem (PL), candidato de Jair Bolsonaro.
O prefeito evitou nacionalizar a disputa municipal e responsabilizou o governo estadual, chefiado por Cláudio Castro (PL), por falhas na segurança pública e no sistema de transportes, enquanto Ramagem atrelou sua imagem ao ex-presidente e associou Paes ao petista —estratégias antecipadas pela coluna. Uma pesquisa aponta que o prefeito perde seis pontos percentuais quando associado a Lula, enquanto Ramagem sobe ao ser ligado a Bolsonaro.
Os bolsonaristas ainda resgataram a bandeira da corrupção e tentaram associar Paes a este tema, marcando a ligação do prefeito com aliados envolvidos em escândalos, como ex-governador Sergio Cabral.
Coube ao deputado estadual Rodrigo Amorim (União Brasil) fazer os ataques mais agressivos contra o prefeito. Em "dobradinha" com Ramagem, o também bolsonarista chamou Paes de "soldado do Lula" —expressão usada pelo próprio prefeito em 2016 durante conversa vazada na Operação Lava Jato.
Amorim usou seu tempo em todas as falas para atacar Paes, chamando-o ainda de "nervosinho" (suposto apelido na lista da Odebrecht), "pai da mentira" e de "filho ingrato de Sergio Cabral" —antigo aliado, o ex-governador foi preso por corrupção.
Os ataques ao bolsonarismo ficaram a cargo de Tarcísio Motta (PSOL), que defendeu bandeiras de saúde e ambiente. Disse que Ramagem é apoiado por Crivella e Eduardo Cunha (Republicanos), defensor de "ladrão de joias", em referencia ao escândalo que envolve Bolsonaro, e "acostumado com espionagem ilegal", sobre os inquéritos em que o candidato é alvo por sua atuação à frente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
Ramagem, por sua vez, defendeu o ex-presidente, disse que ele não foi negacionista na pandemia, atacou Lula e elogiou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
No entanto, apesar da insistência dos adversários em associar Eduardo Paes com corrupção, aliados do prefeito avaliam que "não cola": ele já ocupou diversos cargos públicos, foi alvo de inquéritos em diferentes momentos e que foram arquivados, teve aliados investigados e nunca encontraram nada contra ele.
O foco de Paes nos futuros debates será o de manter o discurso focado nas realizações de sua gestão e nos desafios da cidade, diz uma pessoa próxima. Como exemplo, cita o direito de resposta que o candidato teve um debate de ontem: ele usou o tempo para falar sobre os problemas da avenida Brasil ao em vez de ficar discutindo os ataques de Rodrigo Amorim.
Nessa linha, diz um aliado, a estratégia do candidato foi correta no sentido de mostrar para o eleitor as realizações de seu próprio governo, mostrar conhecimento sobre a cidade, se proteger para não cair em armadilhas e "jogar pelo empate" sabendo que é "vidraça" em um pleito no qual ele deve continuar sendo o principal alvo.
Já Ramagem deve manter a estratégia de se apresentar como uma versão "light" do bolsonarismo, deixando Amorim como "linha auxiliar" para atacar os adversários. Ele não defendeu a gestão Cláudio Castro durante o debate e tampouco nas entrevistas que deu ao longo da semana. A estratégia é se descolar do governador do Rio.
Associação com Bolsonaro para ganhar votos
Ramagem se apresentou como o candidato do ex-presidente, mas Amorim também tentou se ligar ao ex-presidente. Ele se disse cristão, agradeceu "à família Bolsonaro" e fez uma deferência à presença de Carlos Bolsonaro no estúdio — o "02" coordena a campanha de Ramagem. Ao se referir ao adversário, chamou-o de "caro amigo e delegado Ramagem".
Eduardo Paes usou seu tempo para apresentar dados de sua gestão, indicar novas propostas e associar Ramagem com o governador bolsonarista Cláudio Castro (PL), que tem baixa aprovação entre os eleitores. Mencionou Lula apenas uma vez, evitou o confronto direto com Amorim e dirigiu as perguntas ao deputado federal Marcelo Queiroz (PP), que foi seu secretário municipal no segundo mandato na prefeitura, bem como do governo Marcelo Crivella (Republicanos).
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Quero receberLevantamento da Quaest divulgado em julho indica que aumentou o peso da influência dos padrinhos políticos: eles podem ajudar a tirar ou somar votos, em especial entre o eleitor bolsonarista, e, assim, levar a eleição do Rio para o segundo turno.
Quando a empresa pergunta especificamente sobre os candidatos e seus apoiadores, o cenário piora para o atual prefeito e melhora para seu principal adversário: sem a menção do apoio, Paes tem 52%, mas, quando o apoio de Lula é citado, baixa para 46% das intenções de votos. Ou seja, o petista tira seis pontos. Já Ramagem passa de 14% para 30% com a menção a Bolsonaro —portanto, o ex-presidente mais que dobra o potencial do candidato.
Em junho e em julho, a Quaest perguntou ao eleitor se ele votaria em um candidato para prefeito apoiado por Lula e por Bolsonaro mesmo sem o conhecer. O resultado é que passou de 22% para 27% o total dos que dizem que seguiriam o nome indicado por Bolsonaro; e subiu de 19% para 23% os que iriam por um nome apoiado por Lula.
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