Argentina cria impasse em três pontos na declaração final do G20
Nos últimos dias, os negociadores das comitivas que estão no Rio de Janeiro para o G20 têm passado horas em reuniões em um hotel perto do aeroporto para discutir pontos do texto que será divulgado ao fim da cúpula, marcada para segunda (18) e terça-feira (19). As conversas avançaram nesta madrugada, mas a Argentina está travando a negociação em três pontos: questões de gênero, taxação de super-ricos e Agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidas) — uma espécie de guia para a comunidade internacional com metas para o desenvolvimento sustentável.
Historicamente, a Argentina não se opunha a essas questões. No entanto, o governo de Javier Milei tem mudado os rumos da política externa do país. Ele se diz "antiglobalista", termo usado por alguns líderes para criticar organizações multilaterais e a ordem global definida após a Segunda Guerra Mundial. Para eles, a globalização destrói a característica nacional do país e limita a ação do Estado. O principal expoente desse grupo é o americano Donald Trump, de quem Milei já se declarou fã.
Sob Milei, a Argentina já se recusou a assinar dois documentos do G20, um sobre igualdade de gênero e outro que aborda o desenvolvimento sustentável.
Diplomatas e especialistas na política externa do país não descartam que a Argentina possa se negar a assinar a declaração final do G20 — o que seria considerado uma ofensa diplomática ao Brasil. Na semana passada, Milei determinou que a Argentina abandonasse a COP29, a conferência do clima da ONU, no Azerbaijão.
No documento do G20, a Argentina tem criado impasse com alguns objetivos ligados à Agenda 2030 da ONU, em especial o item 5, que trata sobre igualdade de gênero. De maneira geral, o item trata sobre "alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas". A lista de itens inclui o fim da discriminação; do tráfico sexual; do casamento forçado e de mutilação genital; entre outros. Mas também trata do acesso universal à saúde sexual e reprodutiva e os direitos reprodutivos das mulheres. O partido de Milei na Argentina já apresentou um projeto para acabar com o direito ao aborto no país.
Presidentes não se reuniram até hoje
Milei chega ao Brasil no fim da tarde deste domingo (17). A coluna apurou que, por enquanto, a agenda do presidente Lula ainda não inclui reunião com o colega argentino. Em outras palavras, até o momento não está prevista reunião bilateral entre eles.
Até hoje Lula e Milei não se reuniram nem uma vez. Pelo contrário: o argentino xingou o brasileiro durante a campanha no ano passado.
"A questão é: por que a Argentina, um país extremamente decadente, hoje pensa ser uma alternativa ir contra o multilateralismo? A única resposta é a ideia de se tornar um aliado direto, sem questionar, dos Estados Unidos e tentar disso tirar alguma vantagem para seu Estado", diz Danielle Ayres, Professora de Política Internacional e Segurança da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
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