Letícia Casado

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Reportagem

Parlamentares minimizam afastamento de aliado de Bolsonaro com indiciamento

Na semana passada, o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), publicou um artigo na Folha no qual se define um político de centro, critica a polarização e afirma que "o centro nunca foi direita nem esquerda".

A iniciativa se deu na esteira do desgaste de Jair Bolsonaro (PL), após o indiciamento por tentativa de golpe de Estado e de sucessivas declarações do ex-presidente nas quais admite ter conversado sobre medidas de intervenção contra o resultado eleitoral, além de revelar a possibilidade de se refugiar em uma embaixada para evitar a prisão caso condenado.

O posicionamento do senador foi lido pela classe política como um afastamento do antigo chefe por causa do avanço das investigações. Mas o cenário é encarado de maneira diferente por aliados do ex-presidente. Eles dizem que Ciro "nunca foi de direita", "sempre foi centrão" e "não faz parte do entorno próximo de Bolsonaro".

Em suma, minimizam o distanciamento do cacique político, uma das lideranças mais fortes do Congresso. A articulação para eleger o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) teve o dedo de Ciro. Um senador influenciar a eleição do presidente da Câmara dá dimensão do poder dele.

Um parlamentar diz que o senador faz "jogo duplo": se, por um lado, usou o artigo para acenar para fora do Congresso criticando o extremismo, por outro estava naquela manhã enviando o mesmo texto por WhatsApp aos colegas com comentários relativizando o que foi publicado pelo jornal.

Parlamentares do PT ouviram outra versão sobre a saída. Um deputado contou ao UOL que Ciro justificou o afastamento ao cansaço em ser obrigado a conviver com extremistas.

Ciro Nogueira ocupou a Casa Civil no governo Bolsonaro. O senador não atendeu os pedidos de entrevista feitos pela reportagem. Esteve na cadeira considerada o "coração do governo" durante o período em a PF aponta que o golpe era discutido dentro dos palácios do Planalto e do Alvorada.

A expectativa é que Bolsonaro seja denunciado e se torne réu no inquérito que tramita no STF (Supremo Tribunal Federal).

Aliados apostam que o ex-presidente não será preso. O histórico de Lula, que acabou na cadeia, e os indícios revelados pela PF foram minimizados. Os parlamentares acrescentam que Bolsonaro na prisão fortaleceria a direita.

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Dentro do PL, há quem considere que o ex-presidente forneceu munição para investigação. Estas pessoas citam documentos encontrados no cofre da sala de Bolsonaro.

O local guardava o esboço de um texto com justificativas para intervenção militar. O documento foi chamado de "discurso pós-golpe". Também foram achados comprovantes de dois depósitos para os advogados do ex-presidente. Cada recibo tinha valor de R$ 3,38 milhões.

Mesmo com estes indícios e a deserção de Ciro Nogueira, os parlamentares bolsonaristas não mencionam a possibilidade de abandonar Bolsonaro. Para eles, a companhia do ex-presidente ainda tem vantagens políticas e eleitorais.

Reportagem

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