Brasil vai sediar COP30 esvaziada por Trump e em meio a crise ambiental
Entre 10 e 21 de novembro de 2025, o Brasil vai sediar a COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas. A expectativa é que os Estados Unidos sob Donald Trump não endossem metas e compromissos financeiros para mitigar o aquecimento global ou, até mesmo, abandonem a convenção.
"Não há dúvida de que o segundo maior emissor de gases de efeito estufa do mundo tenha um papel importante nas respostas que precisam ser dadas frente à emergência climática. Caso haja seu afastamento momentâneo, os países historicamente comprometidos com o Acordo de Paris, como Brasil, China e União Europeia, precisarão desempenhar papel ainda mais relevante", informou o Ministério do Meio Ambiente por meio de nota.
Além da falta de apoio da economia mais forte do mundo, o Brasil precisa conseguir se colocar como protagonista no tema. Em 2024, o país assistiu a queimadas recordes e enfrentou uma seca histórica que fez evaporar até mesmo os rios da Amazônia. O governo Lula defende a exploração de petróleo na foz do Amazonas e a abertura de rodovia na floresta —medidas altamente prejudiciais ao ecossistema, segundo os ambientalistas.
A COP29, em Baku, no Azerbaijão, terminou sem compromisso para eliminação gradual de combustíveis fósseis e com um acordo de financiamento climático considerado insuficiente e obtido de última hora após esforços diplomáticos frenéticos. Indignado, um grupo de cerca de 80 países vulneráveis abandonou as negociações.
Trump nega aquecimento global
O presidente eleito dos Estados Unidos classificou inúmeras vezes o aquecimento global como "farsa". Assim que assumiu o governo, em 2017, tirou o país do Acordo de Paris, tratado da ONU para reduzir a temperatura no planeta. Agora, sua equipe se prepara para repetir a iniciativa.
Trump também pretende aumentar as áreas para exploração de petróleo, gás e mineração em terras públicas. A queima de combustível fóssil é a principal fonte dos gases de efeito estufa que provocam as mudanças climáticas. Historicamente, os Estados Unidos são os maiores emissores, diz Marcio Astrini, diretor-executivo do Observatório do Clima.
A conta chegou e quem mais deve levantou da mesa e disse que não vai pagar. Disse, aliás, que nem reconhece a conta.
Marcio Astrini, diretor-executivo do Observatório do Clima
A expectativa é que Trump também corte o financiamento para mitigar catástrofes climáticas — incluindo o montante de US$ 500 milhões para o Fundo Amazônia, que o país sob Joe Biden prometeu para o Brasil e dos quais destinou 10% até agora.
Astrini, no entanto, diz que Trump não terá o poder de esvaziar a cúpula porque a posição do americano já é conhecida e, se o país for abandonar a conferência, deve anunciar ainda no começo do ano, meses antes da reunião final.
Marianna Albuquerque, professora do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da UFRJ (IRID-UFRJ) diz que a posição de Trump sobre questões ambientais pode acabar provocando o efeito contrário e fortalecer a sociedade civil e políticos que defendem a pauta.
"Em seu governo anterior, diversos outros setores sociais se mobilizaram de forma inédita, como forma de contrabalançar a postura do presidente. Para além da sociedade civil, destaco os movimentos subnacionais, a exemplo das coalizões de governadores e prefeitos pelo clima", afirma a professora.
Sustentabilidade era bandeira de Lula
A sustentabilidade era uma das bandeiras do governo Lula desde a campanha eleitoral. No entanto, nem o governo federal nem os governos estaduais conseguiram impedir os incêndios de 2024, a maior parte criminosos, que devastaram maior extensão destruída nos últimos seis anos e equivalem ao território do Rio Grande do Sul.
O governo tampouco conseguiu segurar a pauta ambiental no Congresso e impedir o avanço de medidas batizadas como "pacote da destruição".
Sede da COP30 em Belém, o Pará concentrou 36% das queimadas registradas na Amazônia em agosto de 2024. Em entrevista ao UOL, Felipe de Moura Palha de Silva, chefe do MPF (Ministério Público Federal) no estado, responsabilizou as prefeituras locais, o governo do estado, a União e o STF (Supremo Tribunal Federal) pela situação atual.
Palha disse que os órgãos não têm estrutura para atuar no Pará: são apenas 146 brigadistas para combater incêndios e o Ibama não tem aviões à disposição para transitar pelo estado, que tem mais de 1 milhão de quilômetros quadrados de área.
O governo do Pará não respondeu às perguntas enviadas pela coluna.
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