Trump tem nas redes sociais arma que falta a Lula e ao PT

Na noite de domingo (19), véspera da posse como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump fez um comício no qual discursou sobre a importância do TikTok para sua eleição.
Disse que não tinha intimidade com o aplicativo, mas que havia contratado um "garoto" de 21 anos para assumir seu perfil na rede e que isso havia garantido o voto dos jovens. No palanque, Trump agradeceu ao "TikTok Jack" —apelido que ele usa para se referir a Jack Advent, o estrategista de redes sociais da sua campanha.
A fala de Trump deixa claro como o político mais poderoso do mundo pensa: ele, aos 78 anos, não entende do universo jovem, mas reconhece sua importância e foi atrás de um profissional que domina a área —ainda que Advent tenha idade próxima à de sua neta.
Lula não faz o mesmo esforço. Ele não tem celular e recebe informações sobre os debates no X, TikTok e Instagram de duas pessoas de seu círculo íntimo: a primeira-dama Janja e o assessor pessoal Ricardo Stuckert. Ou seja, o presidente não acompanha as redes sociais para formar uma opinião própria sobre o que é relevante.
Um integrante do governo admite que o PT segue atuando como se estivesse nos anos 80 — leitura similar àquela feita por Carlos Bolsonaro em entrevista à coluna: contando com discursos da elite progressista para movimentar trabalhadores e estudantes, sem entender que a comunicação é hoje feita por memes e vídeos curtos com linguagem para a internet e direcionados para nichos nos quais os primeiros segundos são essenciais para captar o internauta.
Em novembro, Jack Advent disse em entrevista ao New York Times que a campanha deliberadamente buscou maneiras de passar a imagem de um Trump autêntico, mostrando bastidores e falando diretamente para a câmera, com o objetivo de atrair o voto dos homens jovens — grupo alvo do americano no TikTok. Trump conseguiu transformar uma música considerada hino da comunidade gay em um hit de sua campanha.
A direita brasileira também aprendeu a usar o discurso, as palavras-chave e as tags que geram engajamento nas redes. Dez anos atrás, o escritor Olavo de Carvalho já ministrava cursos para ensinar como essas ferramentas deveriam ser usadas.
Há sete anos, um de seus alunos, Carlos Bolsonaro, foi essencial para ajudar o pai, Jair Bolsonaro, a se tornar relevante nas redes e ganhar a eleição presidencial de 2018.
PT justifica atraso com impeachment e Lava Jato
Ao longo dos últimos dez anos, o PT não investiu na área de redes sociais e hoje carece de comunicadores, de lideranças e de sucessores.
A lacuna é atribuída a uma "operação de cerco e destruição" ocorrida na última década. O termo foi usado pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, na abertura de um seminário para discutir o futuro do partido em dezembro de 2024 e se referia à Operação Lava Jato.
Ela justificou o atraso nas redes com uma suposta ofensiva para a destruição do partido, o que incluiria o impeachment de Dilma Rousseff e a prisão de Lula: "Enquanto a extrema direita se organizava nas redes sociais e o neoliberalismo governava, a partir do golpe contra a presidenta Dilma, nós estávamos cuidando de sobreviver", disse ela no evento, acompanhado pelo repórter Felipe Pereira.
Ausência leva a derrotas do partido e do governo
A falta de seguidores e de engajamento e a incapacidade de influenciar os debates nas redes levam o partido e o governo a perder o debate em temas importantes.
Nas últimas duas eleições presidenciais, ficou claro que o PT perdeu a capacidade de diálogo com os evangélicos. Na corrida pela Prefeitura de São Paulo, o partido mostrou que também não consegue conversar com aqueles que justamente eram a base de eleitores no século 20: trabalhadores e estudantes.
Em 2025, na mesma semana da posse de Trump, o governo Lula sofreu uma grande derrota: um vídeo do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) obrigou o Ministério da Fazenda a voltar atrás em uma medida de fiscalização das transações via Pix. A única resposta com alguma efetividade partiu da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que nem integra o partido do presidente e somente depois que a medida já havia sido revogada.
Em 2023, no início da gestão Lula, o governo já havia perdido o embate semelhante, sobre a taxação dos produtos da China. Assim como no caso do Pix, a derrota afetava diretamente o bolso das pessoas.
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