Letícia Casado

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Reportagem

Bolsonaro alterou documento para determinar prisão de Moraes, diz delator

Em novembro de 2022, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu em mãos um decreto no qual determinava as prisões dos ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e do então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Ele leu o rascunho, fez alterações e manteve apenas a prisão de Moraes e a realização de novas eleições devido a suposta fraude no pleito de outubro.

As afirmações constam de depoimento de seu antigo ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid. Ele deu as declarações em acordo de colaboração premiada. Nesta quarta (19), os seus depoimentos se tornaram públicos.

Assessor entregou documento a Bolsonaro

Mauro Cid disse à Polícia Federal que Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro, foi ao Palácio da Alvorada acompanhado de um jurista para uma reunião com o então presidente.

Eles entregaram a Bolsonaro um documento com várias páginas "que retratava as interferências do Poder Judiciário no Poder

Executivo e no final era um decreto que determinava diversas ordens que prendia todo mundo", disse Cid.

O texto determinava as prisões de Moraes, Gilmar e Pacheco, além de "outras autoridades que de alguma forma se opunham ideologicamente ao ex-presidente", e também "decretava novas eleições".

De acordo com o delator, o documento "não dizia quem iria fazer, mas sim, o que fazer".

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Cid afirmou que Bolsonaro "recebeu o documento, leu e alterou as ordens, mantendo apenas a prisão do ministro Alexandre de Moraes e a realização de novas eleições devido a fraude no pleito".

Ele contou que ficou sabendo sobre o texto pelo próprio Filipe Martins, que lhe mostrou o documento impresso e de forma digital para que fossem feitas as correções.

Martins demorou alguns dias para fazer as alterações.

Segundo Cid, "o presidente concordou com os termos ajustados e em seguida mandou chamar, no mesmo dia, os generais", — comandantes das Forças Armadas.

Reunião com generais

Segundo o delator, os generais almirante Garnier (Marinha), Freire Gomes (Exército) e brigadeiro Batista Júnior (Aeronáutica) se reuniram com o ex-presidente.

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Cid disse que participou da reunião, "operando a apresentação no computador": Bolsonaro apresentou a eles os fundamentos do decreto, "sem mostrar as ordens a serem cumpridas" (prisão de Moraes e realização de novas eleições).

O ex-presidente queria saber como os comandantes viam a conjuntura política e apurar se havia clima para dar andamento ao seu projeto de permanecer no poder, segundo o delator.

Em novembro de 2024, a investigação da PF mostrou que Bolsonaro buscava ajuda do Exército para concluir o golpe, mas não obteve o apoio dos comandantes do Exército e da Aeronáutica, que se posicionaram contrários a qualquer medida que causasse ruptura institucional no país. Por outro lado, o comandante da Marinha e o ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira, "aderiram ao intento golpista", segundo o relatório.

Na denúncia de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, destaca que o grupo envolvido na liderança do plano deixou um rastro de documentos desde 2021 cujo objetivo era desestabilizar a eleição de 2022.

O UOL procurou a defesa de Bolsonaro para se manifestar sobre a delação de Cid. Se houver resposta, o texto será atualizado. Ontem (18), os advogados do ex-presidente afirmaram em nota que a denúncia da PGR é "precária e incoerente" e que não foram encontradas provas que o ligassem aos crimes mencionados na acusação.

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