Governo quer que Cade investigue preço do ovo no Brasil
O governo federal quer que o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) investigue a alta do preço do ovo no Brasil. Segundo o ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), os valores de cinco grupos de alimentos subiram de maneira significativa nos últimos meses, mas "o preço que está mais estranho é o do ovo, essa subida tão repentina, foi um salto".
"Não cabe a mim fazer nenhum tipo de juízo precipitado, mas os órgãos de concorrência têm que fazer uma análise da subida de alguns preços de maneira injustificada", disse Teixeira à coluna.
Questionado se o governo já procurou o Cade para tratar do tema, Teixeira disse que esse tipo de interlocução não cabe à sua pasta, mas que o assunto pode ser tratado por outra área. O Cade é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Justiça e tem, entre suas funções, investigar e posteriormente julgar cartéis e outras condutas nocivas à livre concorrência.
A afirmação de Teixeira traduz a declaração do presidente Lula, que ontem pela manhã disse que "não tem como explicar por que esse ovo está caro". "Alguém está passando a mão, esse é o dado concreto. Não sabemos quem é, e nós queremos saber. Estão sacaneando as galinhas", disse Lula.
Segundo Teixeira, o preço de alguns alimentos, como a carne, já está cedendo. Ele também citou arroz, feijão, mandioca e soja.
"Então, o que nós temos de problemático ainda? O primeiro deles é o ovo. O presidente Lula tem razão quando alega que foi um aumento muito expressivo. Que as causas que estão colocadas —e só por elas— não explicam o aumento do ovo: aumento de consumo, clima, preço do milho. Só isso não explica. Há um problema de mercado que agravou o preço dos ovos e que precisa ceder. Estamos chamando os produtores tanto de carne quanto de ovos para conversar. Entendemos que está havendo uma distorção desse mercado", disse Teixeira.
"Algumas situações requerem eventuais avaliações de distorção de mercado. O Cade precisa também avaliar onde possa ter distorção de mercado e inexplicáveis aumentos de preço. Estamos em monitoramento permanente", acrescentou o ministro.
Ovo puxou inflação
O valor da caixa com 30 dúzias —que é a caixa comercial — era R$ 142 em janeiro de 2023 e em janeiro de 2024; R$ 149 em janeiro de 2025; e R$ 211 em fevereiro de 2025, de acordo com o acompanhamento de preços feito pelo governo federal, diz o ministro.
O resultado é que o ovo foi um dos vilões da inflação em fevereiro: subiu 15,4% em um mês, a maior alta do segmento, e ajudou a elevar o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de alimentos e bebidas para 0,79%.
Setor produtivo aponta demanda alta e clima quente
Levantamento feito pelo UOL mostra que o preço dos ovos brancos aumentou 69% entre janeiro e fevereiro para o revendedor e chegou ao nível mais alto em pelo menos 22 meses.
Entre os motivos, segundo o setor, estão o forte calor no Brasil, o aumento no preço do milho e a volta às aulas, já que o ovo é consumido nas escolas. Os produtores também citam maior demanda por causa do período da Quaresma, quando parte da população deixa de comer carne vermelha.
"As altas temperaturas registradas no início do ano afetaram a produtividade das aves, impactando diretamente a oferta e os custos de produção", informou à reportagem o Instituto Ovos Brasil (IOB).
Preço dos alimentos derruba popularidade do presidente
A inflação de alimentos está sendo o maior problema para Lula desde o início de 2025. Diferentes pesquisas de avaliação de governo têm mostrado queda na popularidade de Lula. Uma das principais reclamações dos entrevistados é justamente sobre o preço dos alimentos, que impacta na percepção de piora da economia como um todo.
Parlamentares da oposição captaram o movimento e trocaram a pauta de costumes pela da inflação, adotando o discurso de que Lula é responsável pela alta dos preços e consequente redução no poder de compra da população.
A abertura do ano legislativo no Congresso, no início de fevereiro, marcou essa mudança. Os deputados do PL foram ao plenário usando bonés verde-amarelos com a frase "Comida barata novamente. Bolsonaro 2026".
Reportagem
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