Bolsonaro e ministros de Lula receberam reembolsos por gastos com saúde

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Rivais no campo político, deputados lulistas e bolsonaristas recorreram ao mesmo cofre na hora de pagar a conta das próprias despesas médicas: o público.
A lista dos beneficiados inclui o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, braço-direito do presidente Lula (PT).
Em 2019, já na Presidência da República, Bolsonaro recebeu um reembolso de R$ 435 mil para despesas médico-hospitalares. O valor custeou parte do tratamento pelo qual ele passou após sofrer uma facada em 2018, quando era deputado e candidato ao Palácio do Planalto.
"Levei uma facada em 6 de setembro de 2018. Todas minhas despesas foram decorrentes dessa facada. De 1991 até 2018, pelo que me lembro, nunca usei o serviço de saúde da Câmara", disse Bolsonaro ao UOL, em referência aos anos em que trabalhou como deputado.
A reportagem obteve os dados sobre os reembolsos por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação).
Deputados federais têm direito a um plano de saúde de baixo custo, bancado por mensalidades, doações e também pelo orçamento público. Embora custe um percentual baixo do salário dos congressistas, o seguro dá direito a hospitais de alto padrão, como Sírio-Libanês e Albert Einstein.
Além disso, os deputados recebem reembolsos "ilimitados" para despesas com profissionais e hospitais particulares.
Funciona assim: deputados escolhem profissionais e hospitais que desejam para seus tratamentos e apresentam a conta para a Casa Legislativa pagar com recursos públicos.
A exceção é o Partido Novo, que não permite que seus deputados recebam reembolsos de saúde.
Reportagens do UOL mostraram que os brasileiros desembolsaram mais de R$ 120 milhões para deputados e senadores quitarem esses gastos médicos nos últimos dez anos.
No comando das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann recebeu R$ 45,3 mil em reembolso entre 2021 e 2024 enquanto deputada. Ela respondeu, em nota, que "os reembolsos solicitados são referentes a consultas e tratamentos especializados em medicina e odontologia". "Todas as despesas foram justificadas conforme os regulamentos da Câmara dos Deputados, para serviços de saúde previstos no orçamento do Legislativo."
O atual ministro da Previdência, Wolney Queiroz (PDT), obteve ressarcimento de R$ 53,9 mil entre 2020 e 2022. O mandato de Queiroz como deputado por Pernambuco terminou em 2023. Ele não quis comentar o assunto.
A Câmara ressarciu a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) em R$ 320 mil. Nos últimos quatro anos, a parlamentar se submeteu a procedimentos médicos nos hospitais Copa D'Or Star e São Lucas, no Rio de Janeiro, e Hospital Sírio-Libanês em São Paulo, informa sua equipe por meio de nota.
"Ao longo de mais de 40 anos de vida pública, a deputada federal Benedita da Silva sempre pautou sua atuação parlamentar pela ética, pelo compromisso com o interesse público e pela responsabilidade no uso dos recursos públicos. Em todo esse período, raríssimas vezes recorreu a benefícios pessoais vinculados ao cargo, preferindo manter sua conduta com discrição e parcimônia", diz a nota.
"No entanto, aos 83 anos de idade, enfrentando limitações naturais da idade, como osteoporose, dores articulares crônicas, problemas na coluna, lombar e joelho, a deputada precisou realizar, nos últimos quatro anos, cinco cirurgias, sendo quatro delas na coluna e uma no joelho, além de internações hospitalares, onde somente em uma delas com 26 dias de internação, além de consultas, exames e medicamentos."
No campo oposto da política, Carla Zambelli (PL-SP) —aliada de primeira hora de Bolsonaro e que está foragida— obteve ressarcimento de R$ 258,5 mil entre 2019 e 2025. Ela não comentou o assunto.
Ex-ministra da Agricultura na gestão Bolsonaro, a senadora Tereza Cristina (PP-MS) conquistou uma vaga como deputada em 2018. Entre 2019 e 2022, recebeu R$ 78,4 mil como ressarcimento por despesas de saúde.
"Os reembolsos de despesas de saúde, fruto de recomendações médicas e/ou especificidades não cobertas pelo plano, foram considerados legais e, por isso, pagos pela Câmara. Observo que o valor total utilizado em quatro anos corresponde a pouco mais da metade do que era autorizado, a cada ano, pela Câmara, desde 2021", informou a senadora por meio de nota.

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