Topo

Marco Antonio Villa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Paulo Guedes: um falastrão no Ministério da Economia

Colunista do UOL

07/10/2021 12h18Atualizada em 07/10/2021 14h12

Paulo Guedes representa fielmente a elite rastaquera. Tem um profundo desprezo pelo Brasil. Desconhece as grandes mazelas nacionais. E mais, sequer viajou pelo país para conhecer in loco os nossos problemas e as nossas potencialidades. Do pensamento econômico brasileiro manifesta um enorme desinteresse. Reza pela cartilha do que aprendeu há mais de três décadas na Universidade de Chicago. Nunca se destacou no debate sobre os rumos econômicos do Brasil. Basta consultar os arquivos e encontraremos apenas o silêncio, que é muito significativo da inexpressividade entre os nossos economistas. Livros publicados? Quais?

Até assumir o Ministério da Economia, Paulo Guedes era um desconhecido. Sabia-se apenas que era um especulador no mercado financeiro. Acabou caindo nas graças de Luciano Huck em 2017, quando foi aventada a possibilidade da sua candidatura à Presidência da República. A aventura teve curta duração. Logo Guedes encontrou uma alternativa política: Jair Bolsonaro. Só nesta mudança de ares já é possível ver como o economista estava em busca dos holofotes e, preferencialmente, do poder. A distância política entre Huck e Bolsonaro é abissal.

Foi apresentado ao "mercado" pelo então candidato como símbolo maior da sua campanha. Era o "posto Ipiranga", uma espécie de solucionador — quase um mágico — de qualquer dos problemas econômicos, o oráculo do miliciano de Rio das Pedras. O "mercado" - confesso que não sei quem é o "mercado", qual a idade, se é alto ou baixo, torcedor de qual time, mas parece uma espécie de ente supremo - ficou satisfeito. Nem queria saber das opiniões políticas de Bolsonaro, desdenhava das falas homofóbicas, racistas e reacionárias. O que importava para o "mercado" era Paulo Guedes, que foi alçado a gênio da raça, apesar de ninguém conseguir citar apenas um livro que tenha escrito.

Lembrava o célebre Pacheco de Eça de Queiroz aquele que "não deu ao nosso país nem uma obra, nem uma fundação, nem um livro, nem uma ideia. Pacheco era entre nós superior e ilustre unicamente porque tinha um imenso talento. (...) esse talento, que duas gerações tão soberbamente aclamaram, nunca deu da sua força, uma manifestação positiva, expressa, visível! O talento imenso de Pacheco ficou sempre calado, recolhido nas profundidades de Pacheco." Paulo Guedes é o nosso Pacheco e seu imenso talento!

Assumiu o ministério prometendo mundos e fundos. Disse que o mundo ficaria admirado com a sua obra. Trinta e quatro meses depois ficamos sabendo que a grande realização de Paulo Guedes foi manter uma offshore em um paraíso fiscal que pode, segundo divulgado, ter valorizado seus ativos em mais de 15 milhões de reais. O Pacheco e seu imenso talento tupiniquim soube administrar muito bem seu patrimônio. Contudo, sua gestão ministerial foi um desastre: desemprego recorde, volta da inflação, recessão, estagflação. Neste longo período apresentou planos mirabolantes, mas nenhum deles se materializou.

Na célebre reunião de 22 de abril de 2020 - que o Brasil tomou conhecimento graças à decisão de Celso de Mello, que atendeu a solicitação da defesa do ex-ministro Sérgio Moro - apresentou números fantásticos de investimentos estrangeiros no Brasil que estavam apenas aguardando um sinal para chegar ao nosso país. Até hoje, nada. Guedes e seu imenso talento fez questão de afirmar na reunião que teria lido John Maynard Keynes três vezes. E em inglês! Uau! O mais interessante é que a citação de Keynes não tinha nenhuma relação com o que estava sendo falado - discutido seria um exagero, tendo em vista o caos da reunião. Ele precisava demonstrar, como um verdadeiro Pacheco, um saber que nunca teve.

Se tivesse dignidade, não teria mantido clandestinamente uma offshore sem que o Brasil soubesse. Não é uma questão de foro íntimo. É conflito de interesse. Mas como bom rastaquera despreza as nossas instituições, considera um favor viver no Brasil. Ama os Estados Unidos - mas é mais um país mítico do que real. Isto porque se lá fizesse o que fez no Brasil, não estaria mais no Ministério da Economia.

Paulo Guedes conseguiu combinar a falta de ética republicana com uma péssima gestão econômica. Era esperado. Só os oportunistas poderiam acreditar nas suas falácias. A associação do liberal de Chicago com o miliciano de Rio das Pedras jogou o país em uma crise que pode produzir o caos social.