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Marco Antonio Villa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Hitler está vivo. E no Brasil

Heinrich Hoffmann/Archive Photos/Getty Images
Imagem: Heinrich Hoffmann/Archive Photos/Getty Images

Colunista do UOL

19/11/2021 14h13

Na última terça-feira foi apresentada em uma rádio através de um suposto jornalista uma receita para o Brasil enfrentar a crise econômica: "É só assaltar todos os judeus que a gente consegue chegar lá. Se a gente matar um monte de judeus e se apropriar do poder econômico dos judeus, o Brasil enriquece. Foi o que aconteceu com a Alemanha no pós-guerra".

É, sem tirar nem pôr, puro nazismo. É como se estivéssemos assistindo um membro do Partido Nazista dissertando sobre a necessidade da "limpeza étnica." A primeira parte da argumentação tem como inspiração o "Mein Kampf" com tinturas de "O Judeu Internacional", de Henry Ford, sem esquecer "Os Protocolos dos Sábios do Sião". Construíram a falácia de que os problemas econômicos da Alemanha, especialmente após a 1ª Guerra Mundial, eram responsabilidade dos judeus.

No Brasil da terceira década do século 21, sob a égide da Constituição mais democrática da nossa história, é proposto o extermínio dos brasileiros de origem judaica. Simples assim, poderia dizer um extremista bolsonarista.

Não satisfeito, o suposto jornalista afirma, sem corar, que a reconstrução da Alemanha se deu com a expropriação dos bens dos judeus, o que é de uma ignorância pantagruélica. A Alemanha Ocidental —a República Federal da Alemanha— deve sua reconstrução, entre outros fatores, ao Plano Marshall. Não há qualquer relação com o Holocausto.

Se não existe qualquer explicação plausível no campo histórico, a defesa do extermínio dos brasileiros de origem judaica representa uma grave violação da Constituição e do nosso ordenamento legal. Eu esperava uma forte reação de todos os democratas. Ledo engano. Foi apresentado um pedido meramente formal de desculpas. Disse que foi um "comentário infeliz", que foi "mal-entendido" e que "não foi minha intenção ofender a ninguém." Pura hipocrisia! Mal-entendido? A fala foi claríssima, tão clara como a luz do sol do meio-dia. Um SS se sentiria representado pelo suposto jornalista.

Mas e as reações? Dois ou três comunicados de entidades judaicas protestando, uma ou outra manifestação, e só. Nada mais. Foi considerada pela empresa onde foi emitido o comentário nazista como "direito de opinião." Alto lá! O artigo 220 não garante ataques racistas e antissemitas. Não, absolutamente não!

Na Alemanha, os nazistas usaram dos direitos da Constituição de Weimar para impor a ditadura. Os nazistas tropicais usam do mesmo estratagema. Não levar a sério é jogar água no moinho do extremismo. É banalizar a barbárie. É dar estatuto de "opinião" ao extermínio de comunidades indesejáveis para os facínoras que estão no poder.

Ainda é tempo para expressar o repúdio aos defensores do Holocausto. Hoje querem exterminar os brasileiros de origem judaica. E amanhã, quem vão assassinar?