O Brasil avança a 10 km/h, Covid-19 a 100 km/h
No último artigo da coluna, o objetivo era alertar sobre as falhas e subnotificações do sistema de informações COVID-19 no país.
De lá para cá, algumas mudanças positivas aconteceram e merecem destaques.
O Ministério da Saúde melhorou seus Boletins Epidemiológicos (acesse aqui: https://www.saude.gov.br/boletins-epidemiologicos).
Antes, havia recortes específicos de análises pinçadas. Agora há um quadro geral atualizado, oferecendo consistência para uma visão completa da situação.
Os novos boletins apresentam um anexo de informações de referência utilizadas para os gráficos apresentados. Há um pouco mais de transparência.
Há um maior detalhamento da situação de exames COVID-19 concluídos e em análise.
As hospitalizações de Síndrome Respiratórias Agudas Graves (SRAG) estão sendo explicitadas. Os dados foram segmentados Estado por Estado e por faixas etárias.
O ponto positivo principal vai para a criação de um painel de dados com atualização diária de evolução de casos COVID-19 e de SRAG (acesse aqui: https://covid.saude.gov.br/).
Porém, a doença parece ter avançado muito mais rápido do que nossa velocidade de promover melhorias.
Números de hospitalização por SRAGs atualizados
Algumas pessoas ficaram impactadas pelo gráfico da última coluna sobre hospitalizações decorrentes da SRAG. O número era 4 vezes maior do que 2019, em volume de internações.
O cenário atualizado piorou.
A gráfico anterior parece até pequeno nos dados mais recentes: 2019 em azul, 2020 com dados da última coluna em vermelho, 2020 com dados de 27 de abril em amarelo.
Gráfico antigo:
Gráfico atualizado:
A evolução de casos SRAG mais do que quintuplicou (5,32x) em comparação ao mesmo período de 2019.
A tendência é que se chegue 6x, pois há atrasos na atualização no sistema de monitoramento e o histórico acaba aumentando ao longo das semanas.
Hospitalização por SRAG: alta taxa de casos não identificados como COVID-19
A baixa produtividade dos testes ainda persiste e agora conseguimos ter visão focalizada de cada estado nas hospitalizações de COVID-19 e SRAG.
Há grandes disparidades entre Estados.
No Estado de São Paulo ocorreram 33.768 hospitalizações por SRAG. Foi o Estado que mais teve hospitalizações. 25,08% desses casos foram confirmados como COVID-19.
Em terceiro lugar está Minas Gerais, com 5.188 hospitalizações por SRAG. Porém, apenas 6,48% desse total de hospitalizações foram confirmadas como COVID-19, totalizando 336 pacientes.
Fica o alerta para os mineiros, pois estamos vendo algumas notícias positivas sobre o território.
Tudo indica que o "sucesso" esconde a falta de testes e subnotificações.
Cuidados na análise gráfica: semanal vs mensal
O Ministério da Saúde utiliza o critério semanal para atualização de casos da SRAG. A estratégia é ótima para a comunicação de resultados e ciclos rápidos de tomada de decisão.
Porém, a comunicação semana por semana nos passa a sensação de que ocorre uma estabilização de casos.
Quando comparados os dados mês a mês temos a real dimensão da escalada na hospitalização por SRAG. Seguem os gráficos:
Pensar em uma evolução mês a mês é conversar com a realidade das pessoas. Seguimos um padrão intuitivo de análise mensal. Fica a dica para o cientista de dados do Ministério da Saúde.
Epílogo
Em março e abril, havia um discurso de que a doença não era tão grave.
O plano de ação foi algo como construir uma ponte para atravessar o rio da gripezinha.
A negligência custou vidas.
Sem conseguir avistar o outro lado da margem, o governo percebeu que não tem como construir a ponte.
Precisávamos de um barco.
Tivemos uma tímida evolução dos sistemas e dados de monitoramento frente à onda que ganha cada vez mais corpo.
Ainda falta abrir os números de óbitos.
Por SRAG e pelo total detalhado semana a semana de cada cidade.
No último dia 17 de abril o vice-presidente brincou.
"Está tudo sob controle, não sabemos de quem" - Mourão, Gen Hamilton - abril de 2020
Os dados (e fatos) mostram que é o vírus, General.
Nota técnica 1: Link Datapedia
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