Eduardo Bolsonaro: 'Não sou lambe-bota de Trump', mas 'estou seguro no EUA'
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Depois de ter sido acusado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "prática terrorista e antipatriótica" e de "ficar tentando lamber as botas do Trump", o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) negou que esteja ferindo os interesses nacionais em suas atuações políticas nos Estados Unidos.
"Não sou lambe-botas do Trump, mas do Brasil não tem como lutar contra o ativismo judicial", disse Eduardo à coluna. As críticas de Lula se referiam à pressão do deputado bolsonarista por sanções do governo Donald Trump contra o ministro Alexandre de Moraes e alguns de seus colegas do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em entrevista exclusiva ao UOL feita por videochamada da Flórida, onde está em férias com a família, o deputado chamou de "odioso" o discurso do presidente, disse que "terrorismo é o café a R$ 100" e afirmou que "meu eleitor entendeu o meu trabalho" e que "se precisar renunciar ao meu mandato para me manter nos Estados Unidos, eu farei isso".
"Estou seguro porque estou nos Estados Unidos, inalcançável às garras do Moraes", complementou o deputado, que não era investigado quando resolveu deixar o Brasil, mas atualmente enfrenta inquérito da Procuradoria-Geral da República por possível coação contra autoridades brasileiras, o que ele diz ser "perseguição política".
Desde a posse de Trump, Eduardo faz gestões intensas em Washington, visitando gabinetes de congressistas, funcionários do Departamento de Estado e auxiliares da Casa Branca para convencê-los a tomar medidas contra Moraes, juiz relator de casos criminais e eleitorais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros expoentes do bolsonarismo.
No último carnaval, Eduardo se mudou com a família para o Texas para se dedicar integralmente a negociar sanções e está oficialmente licenciado do seu mandato na Câmara dos Deputados. Nesta terça, sem citá-lo nominalmente, Lula usou uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto para comentar pela primeira vez as ações do parlamentar em território americano.
"O que é lamentável é que um deputado brasileiro, filho de um ex-presidente, está lá a convocar os Estados Unidos para se meter na política interna do Brasil. É isso que é grave. É isso que é uma prática terrorista, antipatriótica", afirmou Lula, que seguiu:
"Um deputado pedir licença do seu mandato para ir ficar tentando lamber as botas do Trump e de assessor do Trump, pedindo intervenção na política interna brasileira. Então, não é possível isso. Isso, sim, é desrespeito ao Brasil. Isso, sim, é provocação".
A manifestação de Lula acontece em um momento de escalada da tensão entre Brasília e Washington em torno da possibilidade de sanções da Lei Magnitsky contra o juiz brasileiro. A lei americana prevê pesadas restrições financeiras e territoriais.
'Moraes ignorou alertas dos EUA e colhe frutos'
Questionado sobre o assunto, Eduardo afirma que "a gente não pode dar tantos detalhes, com tanta profundidade, mas está na Casa Branca, está no Congresso, está indo adiante".
"Alexandre de Moraes e as autoridades brasileiras fizeram questão de ignorar o alerta das autoridades americanas. É por isso que agora ele está colhendo os frutos da sua própria conduta, do seu próprio trabalho. O que eu faço aqui é tão simplesmente levar ao conhecimento das autoridades americanas todos esses fatos", diz Eduardo, citando casos judiciais em que Moraes se opôs a cidadãos americanos como Elon Musk, dono do X (ex-Twitter) e Jason Miller, conselheiro de Trump e ex-CEO da rede Gettr.
Eduardo citou ainda uma carta do Departamento de Justiça dos EUA enviado a Moraes para alertá-lo sobre o fato de que suas decisões não poderiam alcançar cidadãos e empresas em território americano, tese que bolsonaristas como ele próprio, o comentarista Paulo Figueiredo e o blogueiro Allan dos Santos tem feito circular entre autoridades americanas.
Na semana passada, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, anunciou restrições a vistos para autoridades da América Latina que tenham, segundo o entendimento da gestão do republicano Donald Trump, se envolvido em atos de censura a cidadãos americanos.
Embora a lista de afetados não seja pública, o gesto foi tomado como tendo por alvo Moraes e colegas do Supremo por sua atuação em relação a big techs como a plataforma X, do empresário Elon Musk. Dias antes, Rubio tinha afirmado em sessão no Congresso haver "grande possibilidade" de que Moraes fosse atingido também por sanções da Lei Magnitsky, que preveem não apenas impedimento de entrada nos Estados Unidos como restrições financeiras. Essas punições mais duras, demandadas por Eduardo e seu grupo radicado nos Estados Unidos, como o comentarista Paulo Figueiredo e o blogueiro Allan dos Santos, ainda podem se concretizar.
A possibilidade tem feito o governo brasileiro elevar o tom, pública e privadamente. Mais cedo, Lula afirmou que o Brasil "vai defender não só o seu ministro, mas também a Suprema Corte".
"É inadmissível que o presidente de qualquer país do mundo dê palpite sobre a decisão da Suprema Corte de outro país", afirmou Lula, ao comentar o assunto. "Se você concorda ou você não concorda, silencie, porque não é correto você dar palpite, ficar julgando as pessoas", disse Lula.
"Um país não pode ficar se intrometendo na vida do outro, punindo o outro. Isso não tem cabimento. Por enquanto o que nós temos é fala de pessoas. Mas pode ficar certo que o Brasil vai defender não só o seu ministro, mas também a Suprema Corte", disse Lula.
Em resposta, Eduardo diz que foi a gestão do democrata Joe Biden, que operou para defender os processos democráticos na eleição de 2022, quem colocou o dedo na balança contra o bolsonarismo e que não vê interferência externa agora.
Questionado se, na condição de deputado federal, não deveria usar sua boa entrada junto às autoridades trumpistas para também negociar alívio nas tarifas americanas sobre produtos brasileiros, Eduardo disse que não.
"Se o Lula não quisesse sofrer com as tarifas, ele tem que baixar os impostos brasileiros. Eu não vou ficar trabalhando para o Lula ter o direito de tacar imposto em cima do brasileiro, tacar imposto no mundo inteiro", disse.
Segundo Eduardo, "o produto brasileiro quando ele entra nos Estados Unidos paga em média 4, 5% de imposto e o produto americano quando vai entrar no Brasil paga mais de 60%. Tá óbvio que existe uma descompensação nessa balança. O que o Trump está fazendo é proteger o país dele".
Eduardo disse ainda que "não tem poder da caneta" pra negociar acordos como outros países têm feito, citando Japão e Israel.
"O Brasil não. O Brasil prefere trilhar um outro caminho. O Lula, ele defende abertamente o fim do padrão dólar, inclusive dentro dos Brics. Ele colocou o Irã dentro do Brics. Ele recebeu dois navios do Irã de guerra sancionados pelos Estados Unidos no Porto do Rio de Janeiro. Ele falou que uma eventual eleição do Trump seria uma nova cara do nazifascismo e aí ele quer que eu vá limpar a bagunça que ele faz? Negativo", afirmou.
Questionado se já fala na condição de presidenciável do bolsonarismo em 2026, disse que a decisão recairá sobre seu pai, mas se diz esperançoso que ele próprio saia candidato, apesar da inelegibilidade decidida pelo Tribunal Superior Eleitoral até 2030.
"Tanto Lula quanto o Moraes sonham em acabar com o capital político de Jair Messias Bolsonaro. Eles acham que prendendo o presidente Bolsonaro, eles vão dar fim ao movimento que Bolsonaro lidera. Não vão conseguir. As pessoas não têm como olhar para todas essas arbitrariedades, tudo isso e achar que isso daí é sinônimo de democracia" e compara a inelegibilidade de Jair Bolsonaro à exclusão do processo eleitoral da líder da oposição na Venezuela Maria Corina Machado.
"Aqui (nos EUA) eu estou tentando resgatar as liberdades do povo brasileiro, a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa e isso muito me orgulha. Eu acho que mais um pouquinho, ele vai acabar me citando nominalmente para me dar os créditos disso tudo aí", diz Eduardo, lembrando que Lula não falou seu nome nas críticas que fez.
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