Lula só conversará com Trump no Canadá se iniciativa partir dos EUA

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O presidente Lula e o líder norte-americano, Donald Trump, estarão pela primeira vez no mesmo ambiente na próxima semana. Eles estarão no Canadá para a reunião do G7, o grupo dos países mais industrializados do mundo, que começará no próximo domingo.
O Brasil participa do encontro como convidado especial dos anfitriões canadenses, mas, se os Estados Unidos não pedirem, Lula e Trump não terão sua primeira reunião bilateral para conversar.
Desde que o republicano assumiu, em janeiro, os dois líderes jamais se falaram. Lula enviou uma carta para parabenizar o americano pela vitória, e ainda postou uma mensagem em suas redes sociais, poucas horas depois da confirmação da volta de Trump à Casa Branca, mas nunca obteve resposta. "Meus parabéns ao presidente Donald Trump pela vitória eleitoral e retorno à presidência dos Estados Unidos. A democracia é a voz do povo e ela deve ser sempre respeitada. O mundo precisa de diálogo e trabalho conjunto para termos mais paz, desenvolvimento e prosperidade. Desejo sorte e sucesso ao novo governo", escreveu o petista.
O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, também escreveu para seu par, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, mas não obteve qualquer retorno. Rubio agora acumula a função de Conselheiro de Segurança Nacional, posição que seria equivalente à do assessor presidencial Celso Amorim, com quem o norte-americano tampouco falou. Amorim remeteu carta a Mike Waltz, que ocupou o posto de Conselheiro antes de Rubio, e também foi ignorado.
"Agora a bola está quicando na quadra deles", afirmou à coluna um embaixador brasileiro que participa das negociações com os americanos e descarta que o Brasil faça o movimento de pedir por uma reunião bilateral - comum entre os líderes que participam de eventos multilaterais.
O Itamaraty afirma que, apesar do silêncio entre autoridades de alto nível dos dois países, a relação EUA-Brasil segue acontecendo nos níveis burocráticos.
Trump também não deve se esforçar para encontro
Do lado americano, a possibilidade de que uma conversa com Lula seja pedida por Trump é vista como "remota". Na burocracia diplomática, nenhum movimento neste sentido foi feito até o momento.
Com o antecessor de Trump, o democrata Joe Biden, Lula teve ao menos três bilaterais em pouco mais de um ano. E o brasileiro não escondeu a preferência de que o campo de Biden vencesse as eleições de 2024 nos EUA.
Dias antes da eleição americana, Lula afirmou que o retorno de Trump à Casa Branca significaria a volta "do fascismo e do nazismo com outra cara". Já Trump endossou a candidatura à reeleição de Jair Bolsonaro em 2022, contra Lula.
Embora embaixadores brasileiros digam que os dois não teriam o que conversar, o presidente brasileiro tem mandado uma série de recados públicos ao americano nos últimos dias. Em visita recente à França, Lula repetiu que o republicano não foi eleito para "xerife do mundo".
Além disso, na Conferência das Nações Unidas para os Oceanos, sem citá-lo nominalmente, o líder brasileiro disse que é preciso "convencer o chefe de Estado desse mundo de que a questão climática não é invenção de cientista, não é brincadeira da ONU". Trump é um aberto negacionista climático e tem acelerado planos de exploração de petróleo e de mineração.
Lula também criticou a possibilidade de sanções americanas ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, impulsionada tanto por bolsonaristas radicados nos EUA quanto pelos donos de big techs incomodados com as decisões judiciais de Moraes.
"É inadmissível que o presidente de qualquer país do mundo dê palpite sobre a decisão da Suprema Corte de outro país. Se você concorda ou você não concorda, silencie, porque não é correto você dar dar palpite, ficar julgando as pessoas", disse o presidente brasileiro.
Ao confirmar sua participação no encontro do G7, Lula aproveitou mais uma vez para alfinetar Trump. Disse que pretendia participar para estreitar relações com o governo do Canadá antes que o país deixe de existir.
"Vou participar do G7 antes que os EUA anexem o Canadá como estado americano. Aproveitar esse pouco tempo de respiro que o Canadá tem como soberano", afirmou Lula. Trump já disse em várias ocasiões que, de fato, pretende incorporar o vizinho e aliado histórico ao território americano.
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