Extremistas espalham memes de ataque a migrantes e manifestantes anti-Trump
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O jornal americano Wall Street Journal mostrou hoje que, nos últimos dias, grupos extremistas de direita, como os Proud Boys, espalharam memes e mensagens em redes sociais como o X e o Telegram incentivando ataques contra manifestantes anti-Trump.
Hoje, enquanto o presidente americano Donald Trump será o anfitrião de uma parada militar pelas ruas de Washington, algo que não se vê na capital do país desde 1991, espera-se que ao menos 2.000 protestos irrompam ao redor dos EUA.
As marchas, batizada de "No Kings", ou "Sem Reis", é uma resposta à percebida militarização e autoritarismo que o governo federal tem adotado ao lidar com assuntos domésticos, como a deportação. O estopim foi o envio por Trump, à revelia do governador da Califórnia, de tropas militares para suprimirem manifestações anti-deportação e pró-imigrantes em Los Angeles, há uma semana. De lá pra cá, a tensão e o número de atos em protesto tem escalado.
"Atire em alguns deles e os outros irão pra casa. Prometo", eram os dizeres em um post, com a imagem de um homem de chapéu segurando uma espingarda, que circulou há alguns dias em uma conta de Telegram do grupo Proud Boys.
A polícia americana investiga se os ataques a dois parlamentares estaduais de Minnesota baleados nesta madrugada — a deputada democrata Melissa Hortman, que morreu, e o senador democrata John Hoffman, hospitalizado — foram cometidos por um criminoso que pretendia também cometer atos violentos contra os manifestantes anti-Trump. De acordo com a polícia, o suspeito dos crimes, um homem de 57 anos e identificado como Vance Boelter, foi flagrado na casa de uma das vítimas, trajava um uniforme policial e usava um veículo equipado com giroflex, como o de viaturas policiais.
Os memes pró-violência antiprotestos se juntam a outros, anti-imigração, que têm sido espalhados por grupos supremacistas brancos nos últimos meses. Um deles, uma imagem do Tio Sam estimulando americanos a "denunciarem imigrantes" para "ajudar o país" acabou repostada pela conta oficial da própria agência de controle de imigração e alfândega dos EUA, o ICE, na sigla em inglês.
"Os movimentos de extrema-direita há muito compreenderam que quebrar tabus pode ser uma forma eficaz de chamar a atenção e mudar as normas sociais. Na cultura digital, o humor tornou-se uma ferramenta fundamental nesse processo. Piadas funcionam como um escudo: se uma declaração for recebida com repercussão negativa, seus defensores podem simplesmente alegar que foi 'apenas uma piada'", argumentam os antropólogos Mirco Göpfert, da Goethe University Frankfurt e Konstanze N'Guessan, da Mainz University, que recém publicaram um artigo acadêmico se debruçando sobre o crescimento da cultura do meme na extrema-direita, especialmente nos EUA.
Trump e os grupos extremistas
A relação entre o trumpismo e milícias de extrema-direita não é uma novidade, embora Trump tenha tentado eventualmente se distanciar dos grupos, sempre de modo ambíguo. No primeiro mandato do presidente, manifestações abertas da extrema-direita começaram a se espalhar pelo país, o que levou a uma resposta de parte da sociedade civil contra tais atos. Em Charlottesville, Virgínia, em 2017, uma situação dessas acabou em tragédia quando um membro de grupo supremacista branco investiu com um veículo contra uma marcha antirracista. Uma pessoa morreu e 35 ficaram feridas no atropelamento.
Durante as manifestações Black Lives Matter, em 2020, após a morte de George Floyd, Trump chegou a elogiar a atuação de grupos milicianos que se contrapunham armados aos manifestantes contra a violência policial contra negros. Em um desses casos, ele apoiou o jovem de 17 anos, Kyle Rittenhouse, que atirou e matou dois manifestantes em Kenosha, Wisconsin.
Questionado durante um debate televisivo, na campanha eleitoral de 2020, sobre se estaria disposto a condenar a atuação desses grupos, Trump simplesmente respondeu: "Proud Boys, stand up and stand by", algo como "Proud Boys, se levantem e aguardem".
Durante o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, quando milhares de manifestantes invadiram violentamente o Congresso tentando impedir a certificação da vitória do democrata Joe Biden à presidência, o que removeria Trump da Casa Branca, centenas dentre os envolvidos eram ligados aos grupos extremistas. Vários foram condenados na Justiça pela participação nos atos. E todos receberam o perdão presidencial de Trump no primeiro dia de seu segundo mandato, em janeiro de 2025.
Marginalizados e ostracizados após a derrota de Trump e a insurreição no Capitólio, grupos como os Proud Boys voltaram à cena pública ainda em 2024, durante a campanha do republicano à Casa Branca, para mostrar seu apoio político a ele. Foi o que aconteceu em comícios do republicano em Nova Jersey ou até em atos de comemoração ao de 6 de janeiro, em Ohio.
A agenda de tais grupos e da nova gestão Trump têm claras convergências. Uma das mais claras é a pauta pró-imigração.
Na última semana, o ex-líder do grupo Proud Boys Enrique Tarrio —um dos condenados e perdoados pelo 6 de janeiro— se autointitulou um "czar de fronteira" ao lançar uma criptomoeda, batizada de ICERAID, que recompensa com ganhos aqueles que denunciarem imigrantes sem documentos no país.
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