Mariana Sanches

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G7 se reúne com desafio de concordar em resposta para mundo 'mais perigoso'

Na manhã de hoje no bucólico cenário das Montanhas Rochosas de Kananaskis, o anfitrião do G7, o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, abriu as reuniões do grupo de países mais industrializados do mundo com um diagnóstico sombrio e um apelo.

"Estamos nos reunindo em um desses momentos decisivos, aqueles pontos de virada na história em que o mundo está mais dividido e perigoso", afirmou Carney, que seguiu, mencionando "Estados hostis e terroristas" expandindo sua capacidade e "ameaçando a segurança global", em uma provável menção ao conflito entre Israel e Irã, que irrompeu apenas dias antes do início do já conflagrado encontro.

"Podemos não concordar em absolutamente todas as questões, mas onde cooperarmos, faremos uma enorme diferença, para os cidadãos e para o mundo", pediu Carney à plateia que incluía os mandatários de Estados Unidos, Japão, Itália, Reino Unido, França, Alemanha e União Europeia.

Em 50 anos de G7, houve poucas ocasiões em que o grupo pareceu tão rachado quanto em 2025. O dissenso é tanto que os canadenses, organizadores do evento, não nutrem sequer a ambição de que alcançarão uma declaração final assinada por todos os líderes, como é praxe em reuniões multilaterais.

Isso se deve, em grande parte, à ascensão de Donald Trump ao poder pela segunda vez nos EUA.

Enquanto historicamente o G7 defende o livre comércio, Trump lançou tarifas sobre todos os aliados do grupo, e mirou especialmente no vizinho Canadá, sobre quem declarou o interesse de anexar territorialmente.

Trump também demonstrou intenção de controlar a Groenlândia, um território autônomo da Dinamarca, membro da União Europeia, que foi visitado pelo presidente francês Emmanuel Macron imediatamente antes do início do G7, em um recado a Trump.

O mandatário americano também insiste que a Rússia deveria voltar a ser admitida no G7. O país foi retirado do grupo em 2014 depois de invadir a Crimeia, parte da Ucrânia. De lá pra cá, as invasões russas apenas se intensificaram.

Diante de Carney, neste sábado, Trump disse que a retirada dos russos do grupo foi "um erro", posição inadmissível para boa parte dos europeus, que veem no líder Vladimir Putin uma ameaça existencial e um agente com quem seria impossível negociar. Por isso mesmo, é improvável que o grupo consiga concordar integralmente em ações em relação ao conflito na Ucrânia. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky participa do evento como convidado.

Também não há concordância sobre Israel. No fim do mês passado, França, Reino Unido e Canadá ameaçaram tomar "medidas concretas" contra o governo israelense de Benjamin Netanyahu caso não interrompesse a ofensiva militar e o bloqueio de ajuda humanitária em Gaza. Trump já demonstrou apoio ao plano de remoção dos palestinos de suas terras, meta declarada de Netanyahu. E embora garantam que não participaram do ataque de Israel ao Irã na semana passada, os EUA não condenaram o movimento e Trump tem demonstrado suporte a Netanyahu no tema.

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Admitindo que o momento atual é desafiador para o grupo, Carney tentou um approach diplomático sobre as ações de Trump.

"Nostalgia não é uma estratégia", disse o canadense, rememorando a queda do muro de Berlim e a integração dos países da Cortina de Ferro ao capitalismo, o que ele considera um sucesso do G7.

"Temos que mudar com o tempo e construir um mundo melhor. E alguns de vocês, como o senhor, Sr. Presidente(Trump), anteciparam essas mudanças massivas e estão tomando medidas ousadas para lidar com elas", disse Carney se dirigindo ao americano.

"O mundo olha para esta mesa", afirmou Carney.

A saber se as imagens que surgirão em 2025 serão de união e concordância, ou se surgirão momentos tensos como parece transparecer de uma foto icônica do encontro dos líderes em 2018. Na imagem, a então chanceler alemã, Angela Merkel, coloca as duas palmas das mãos sobre a mesa diante de Trump, que cruza os braços e parece desviar o olhar dela, enquanto Macron, Thereza May, então primeira-ministra britânica, e o líder japonês Shinzo Abe se reúnem ao redor de ambos.

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