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Maurício Ricardo

Em vídeo, Olavo admite nazismo de direita e chama Alvim de "trouxa"

Olavo: Alvim foi trouxa - Joshua Roberts/Reuters/BBC
Olavo: Alvim foi trouxa Imagem: Joshua Roberts/Reuters/BBC

Colunista do UOL

20/01/2020 12h16

Se "Olavo tem razão", amigo bolsolavista, é hora de admitir com a hombridade que se espera dos intelectuais sinceros o que todo o mundo já sabe, menos os revisionistas históricos da extrema-direita: o nazismo é uma ideologia "direitista".

Opa! Segure as pedras! É o próprio Olavo de Carvalho quem faz essa afirmação, em vídeo, ao criticar o livro "Dicionário Crítico do Pensamento da Direita" (Editora Mauad), um compêndio que reúne 300 verbetes assinados por 120 autores. "Eles citavam aqui", diz Olavo, brandindo o livro, "apenas seis autores direitistas, dentre os quais, dois nazistas".

Apenas para esclarecimento do ministro da Educação, Abraham Weintraub, e de algum outro eventual olavista pouco íntimo com a língua portuguesa, vale lembrar que o único significado da palavra "dentre" é: "do meio de" (Dicionário Houaiss).

Ou seja, o que Olavo de Carvalho está dizendo é que, dos minguados seis autores de direita citados no livro, dois são nazistas. Ora, se o nazismo fosse de esquerda, um autor nazista jamais seria incluído por Olavo entre os pensadores "de direita", concorda? Usando uma expressão bastante usada pelos olavistas, isso é "irrefutável".

Comuno-petistas

No mesmo vídeo, aparentemente trecho de uma aula de seu Curso Online de Filosofia, Olavo tenta eximir o ex-secretário de Cultura do governo Bolsonaro, Roberto Alvim, da responsabilidade pelas citações infames do ministro da Propaganda Nazista, Joseph Goebells, no vídeo que causou sua demissão. Diz Olavo:

"Tudo o que escrevi do Alvim foi para preservá-lo da injusta acusação de nazista, porque obviamente a coisa foi montada para dar a ele a aparência de nazista e estender esta aparência a todo o governo Bolsonaro (...). E é claro que quem enxertou aquela frase parafraseada de Goebells no discurso dele foi algum funcionário comuno-petista ali dentro".

O próprio Alvim, entretanto, desmente esta teoria conspiratória em um comunicado a seus contatos no WhatsApp, que caiu na rede e foi reproduzido no site da revista Veja: "Eu escrevi o texto do meu discurso em vídeo", assume. E livra nominalmente seus assessores de qualquer responsabilidade: "Denia Magalhães, Alessandro Loiola e Alexandre Leuzinger não têm nada a ver com a escritura".

Nenhum outro funcionário da Secretaria, comuno-petista ou não, foi citado na nota.

No auge da crise que levou à demissão do secretário, Olavo de Carvalho disse que Alvim "talvez não esteja bem da cabeça". Essa crítica de "seu mestre" foi, segundo o próprio Roberto Alvim em entrevista à Rádio Gaúcha, "a única coisa" que o entristeceu.

"Alvim foi trouxa demais"

No mesmo vídeo em que assume a existência de "direitistas nazistas" e culpa funcionários de carreira a serviço do comunismo pelo enxerto da fala de Goebells no discurso do ex-secretário, Olavo afirma:

"Alvim foi trouxa demais. Ele não entendeu minha intenção: ele achou que eu o estava criticando quando, (...) entre acusa-lo de nazista e acusa-lo de trouxa, preferi acusa-lo de trouxa. Seria a defesa dele: 'Me fizeram de trouxa'. Ele então, para não reconhecer que foi feito de trouxa, preferiu endossar o sentido da frase. Bom, então aí não dá mais para conversar: a trouxice passou do limite do razoável. Eu ainda insisto, ele de nazista não tem nada. Mas em matéria de trouxa, caprichou, provando que de fato não estava qualificado para um cargo dessa altura".

"Ação satânica"

Roberto Alvim ainda não se manifestou sobre a fala de Olavo de Carvalho publicamente. Ele apagou sua conta no Facebook. Na mesma nota de WhatsApp divulgada pela Veja, disse desconfiar "não de uma ação humana", mas de uma "ação satânica em toda essa horrível história".

Ou seja: saem funcionários concursados "comuno-petistas" de Olavo e entra a mão invisível de satanás. No fim das contas, em se tratando do bolsolavismo, sempre se encontra uma "força oculta" que exime os ungidos infalíveis de seus erros.