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Maurício Ricardo

Edital da Funarte não persegue grupos de rock: defende as bandas de coreto

Colunista do UOL

23/01/2020 12h40

Sem querer desmerecer a importância do solo de trompete em "Penny Lane" dos Beatles, o saxofone do Supertramp ou a flauta do Jethro Tull, justiça precisa ser feita: o edital da Funarte que "proíbe o rock" não existe. Dessa vez, pelo menos dessa vez, o que houve foi um erro gigante de leitura por parte de jornalistas, parlamentares e torcida organizada.

Dante Mantovani, o atual presidente da fundação, é um terraplanista alucinado que chama o rock de "satânico e abortista". É cria de Olavo de Carvalho e Roberto Alvim. Nunca deveria ter entrado no governo e sua permanência lá afronta a cultura brasileira. Mas o edital em questão é parte de um projeto permanente da Funarte (que existe desde os governos petistas) com o objetivo de apoiar e preservar as bandas sinfônicas, bandas filarmônicas e "bandas de música" tradicionais. Aquelas de coreto e pracinha sobre as quais Chico Buarque cantou em seu clássico dos anos 60. Este modelo de banda, basicamente formada por instrumentos de sopro e percussão, não faz exatamente o tipo de música que bomba no Spotify mas tem sido fundamental para a formação de instrumentistas e é uma importante tradição cultural.

Financeiramente inviáveis

Como são compostas por de dezenas de participantes e os instrumentos são caros (uma boa tuba custa em torno de R$ 5 mil), as bandas, em geral, sobrevivem graças ao apoio de ONGs e órgãos públicos de fomento à Cultura, como a própria Funarte. O edital trata especificamente da doação de instrumentos de sopro para essas bandas.

Vale lembrar que "banda de rock" é uma expressão que se popularizou a partir da década de 80. Até então, Queen, Led Zeppelin e Mutantes eram chamados de "grupo" ou "conjunto". Ao explicitar no edital que ele não se destina a "fanfarras", "big bands" e "bandas de rock", entre outras exclusões, a Funarte está apenas tentando delimitar o público alvo do seu edital.

Não por isso

Os tempos são bicudos. Todos os dias o governo e seus aloprados dão farta munição à imprensa para ataques. Todo o episódio envolvendo o prêmio nacional nazista de Roberto Alvim não deveria ser esquecido só porque ele caiu: Dante Mantovani está lá. Sérgio Camargo, o negacionista do racismo ainda tenta ocupar a Fundação Palmares. Rafael Nogueira, o presidente da Biblioteca Nacional que não quer Caetano Veloso nos livros didáticos, também.

Cereja do bolo, Regina Duarte assume a pasta da Cultura sem nenhuma experiência administrativa e nenhuma representatividade junto a seus pares.

Mas o edital da Funarte é claro e o apoio às bandinhas de coreto existe, de forma similar desde 2007.