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Maurício Ricardo

Se o sertanejo fosse universitário não pediria fim da meia-entrada

Dedé Santana e cantores sertanejos pedem fim do benefício da meia-entrada a Bolsonaro - Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo
Dedé Santana e cantores sertanejos pedem fim do benefício da meia-entrada a Bolsonaro Imagem: Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

29/01/2020 19h16

Já há alguns anos, para dar um verniz mais elitizado ao gênero sertanejo e se diferenciarem dos veteranos, as duplas mais jovens aceitaram de bom grado o rótulo de "sertanejo universitário". Se essa ligação entre os músicos e os estudantes for verdadeira, pelo visto tem gente aí esquecendo suas origens. Hoje, várias dessas duplas visivelmente "traíram o movimento", ao integrar a comitiva que foi a Brasília pleitear, junto ao presidente Jair Bolsonaro, o fim da meia-entrada.

No mundo

Essa história de dar descontos para estudantes não é invenção brasileira. A meia-entrada existe, de diferentes formas e em diferentes graus de abrangência, até nos países mais ricos do mundo. Oquei, dificilmente em concertos de música popular. Mas em museus, balés, teatros, trens e uma infinidade de produtos e serviços online, estudante paga meia ou tem descontos consideráveis.
Até o Spotify, o lugar onde a maioria dos universitários consome a música, por exemplo, de Zé Neto & Cristiano, tem plano para estudante cobrando meia.

Politização

A verdade é que, ao contrário do ambiente universitário, a música sertaneja não é lá muito conhecida por sua politização. Muito pelo contrário. Por isso chama a atenção o fato de que uma comitiva cheia de vozes expressivas (em meio a outras nem tanto) tenha aberto mão de seus compromissos para ir manifestar apoio a um presidente que acaba de completar um ano de mandato.
Eles têm todo o direito de torcer pelo Bolsonaro, claro. Mas que o evento foi atípico e deslocado não dá pra negar.
Sério mesmo? Aqueles famosos todos foram a Brasília só para dizer que o governo vai bem e abraçar uma pauta impopular como o fim da meia-entrada? Por que?

Equação

A equação (cujo entendimento não exige nível universitário) ganha todo o sentido quando você descobre que quem juntou a galera toda foi a Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), órgão que reúne os principais contratantes de shows do país.
Aí sim dá para entender.
É como cantar de graça em festa de aniversário da rádio. É como cantar na festa de confraternização de funcionários da emissora de TV que vai te colocar ao vivo nas tardes de domingo.
Os caras contratam os shows. Você não vai querer se indispor com eles.
Regra básica na indústria da música desde antes da invenção do LinkedIn, dos coachs e do termo "networking".
Nem precisa de ajuda dos universitários, precisa?