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Mauricio Stycer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro joga para a torcida com nova provocação à Globo

Colunista do UOL

23/09/2021 22h31

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Na sua conflituosa relação com a mídia, o presidente Jair Bolsonaro adotou variadas e confusas estratégias nestes dois anos e nove meses de governo. Desde antes da posse, deixou claro que dividia os veículos entre "amigos" e "inimigos" - e, claro, privilegiou os primeiros nas entrevistas e informações que deu.

Nos últimos tempos, o presidente vinha optando, preferencialmente, por transmitir informações diretamente aos fãs no "cercadinho" do Alvorada, nas lives semanais, em entrevistas a rádios regionais e a comunicadores que confia.

Nesta quinta-feira (23), o presidente anunciou uma nova estratégia. Revelou que deu uma entrevista à revista "Veja" e praticamente pediu para ser entrevistado por outros veículos: "A imprensa que quiser conversar comigo, não tem problema". Mas fez uma ressalva: para a Globo só falará se for ao vivo.

A imprensa que quiser conversar comigo, não tem problema. Agora, a gente espera que não haja distorções, é só isso. No tocante ao sistema Globo, se quiser uma entrevista ao vivo, estou à disposição. Gravar para vocês, ai fica difícil. Mas se quiserem ao vivo, sem problema nenhum".

A nova estratégia vem num momento em que a avaliação do governo Bolsonaro piora e atinge novo recorde (53%) de "ruim" ou "péssimo" e 59% dos eleitores dizem que não votariam nele de forma alguma em 2022.

A nova provocação ao maior grupo de comunicação do país é, assim, apenas um gesto direcionado à torcida. E está em linha com uma estratégia que Bolsonaro desenvolve desde a campanha eleitoral, em 2018.

A "guerra à Globo", que inclui até ameaças sobre a renovação da concessão da emissora, ajuda o presidente a se colocar como vítima de um "inimigo" poderoso e estimula os seus seguidores mais fervorosos a defendê-lo.

A declaração, como se esperava, fez a alegria dos fãs do presidente nas redes sociais.

Esta tática, tudo indica, foi inspirada na postura adotada por Donald Trump, durante a sua temporada na Casa Branca. O então presidente enxergava "amigos" e "inimigos" entre os veículos de comunicação.