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Mauricio Stycer

REPORTAGEM

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Inexperiente na área, nova diretora de criação provoca catarse na Globo

Samantha Almeida, recém-contratada pela Globo para o cargo de diretora de criação - Hugo Sá/Globo
Samantha Almeida, recém-contratada pela Globo para o cargo de diretora de criação Imagem: Hugo Sá/Globo

Colunista do UOL

20/10/2021 12h54

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A executiva Samantha Almeida, recém-contratada para o novo cargo de diretora de criação da Globo, foi apresentada esta semana a cerca de 270 autores e roteiristas da emissora numa reunião virtual na tarde de segunda-feira (18).

Dois dias depois, o encontro ainda é o assunto principal nas conversas entre os autores da Globo. Samantha recebeu as boas-vindas de Fernanda Torres e foi apresentada por Ricardo Waddington, diretor de Entretenimento. Segundo os relatos que ouvi, ela emocionou a plateia ao contar a sua história de vida e descrever a sua visão de mundo.

Nascida e criada na Rocinha, falou da emoção de estar chegando à Globo nesta função. Ela contou que, na infância, foi levada a visitar o Projac pelo pai, eletricista, que trabalhou na empresa.

No final de 2020, numa reunião com a equipe de autores e roteiristas, Waddington mencionou que quer deixar um legado de representatividade e diversidade.

Apresentada pela Globo como "uma das principais lideranças femininas do Brasil ligadas à inovação e à diversidade no mercado de comunicação", Samantha vai comandar a área responsável por fomentar a criação de conteúdo do entretenimento e também pela gestão das equipes de autores, pesquisadores e produtores de conteúdo da Globo.

Para surpresa e preocupação de muitos, a descrição do novo trabalho de Samantha não combina com o seu currículo. A nova diretora não tem nenhum histórico de atuação em dramaturgia ou em criação artística.

Ao longo de 20 anos de carreira, em publicidade, atuou principalmente na área de planejamento. Até setembro, ocupou o cargo de liderança do Twitter Next no Brasil, focada em parceria com anunciantes para o desenvolvimento de estratégias e campanhas criativas. Seu currículo ainda inclui passagens por áreas estratégicas de empresas como Ogilvy Brasil, Music 2/Mynd, Avon Brasil, The Estée Lauder Companies, Trifil & Scala e Levi Strauss Co.

Ao falar de sua história e de sua perspectiva, realçando a questão da diversidade e da representatividade racial, Samantha causou muita comoção. Na visão de alguns presentes, foi uma fala de líder e de motivação para a criação. Segundo relatos, Manuela Dias, autora de "Amor de Mãe", se disse muito emocionada e propôs: "Chega de contar histórias de princesas. Vamos falar das amas".

"Você traz um frescor como há muito não acontecia", disse Walcyr Carrasco. O roteirista Igor Verde falou da identificação que sentiu: "Muito bom ter alguém que se parece com a minha irmã, minha mãe, com as pessoas que eu convivo".

Após novos cortes e demissões de autores e diretores, cancelamento de projetos e engavetamento de roteiros já prontos, o clima entre os roteiristas da Globo é de baixo astral. Samantha não falou de planos, mas produziu, nas palavras de algumas testemunhas, uma catarse, uma injeção de ânimo.

Pedi à Globo uma entrevista com a nova diretora de criação, mas fui informado que ela ainda está conhecendo a empresa e não tem planos iniciais definidos.

No novo organograma da Globo, Samantha está abaixo de Ricardo Waddington, na mesma posição que outros oito diretores: Simone Oliveira (Globo Filmes), José Luiz Villamarim (dramaturgia), Boninho (variedades: realities e shows), Mariano Boni (variedades: pauta), Gleiber Morato (produção), Bernardo Portugal (gestão da produção artística), Adelia Croce (gestão de talentos artísticos) e Fabiana Moreno (inteligência e gestão).

A equipe de Samantha ainda não está fechada. Fazem parte, até o momento, Alexandre Santos (fomento e acompanhamento de drama longo), Pilar Minguez (fomento e acompanhamento de drama curto e humor), Alessandra Andrade (fomento e acompanhamento de variedades) e Barbara Libânio (gestão de criadores e apoio à liderança).