REPORTAGEM
Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Fabricante de medicamento ineficaz contra a covid processa a Record e perde
Mauricio Stycer
Jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 29 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o "Lance!" e a "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Adeus, Controle Remoto" (editora Arquipélago, 2016), "História do Lance! ? Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo? (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011). Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Colunista do UOL
17/01/2022 16h13
A farmacêutica americana Merck, fabricante de ivermectina, informou em fevereiro de 2021 que o medicamento era ineficaz contra covid-19. Naquela ocasião, o vermífugo vinha sendo utilizado e indicado por médicos em protocolos de tratamentos de pacientes com o vírus.
O informe da Merck foi replicado pela mídia em todo o mundo, inclusive no UOL. No site da Record (R7), porém, a matéria foi ilustrada com uma caixa do medicamento fabricado pela Vitamedic, uma farmacêutica brasileira
Pois a Vitamedic, que também foi investigada pela CPI da Covid, entrou com uma ação exigindo direito de resposta. A empresa avaliou que, ao usar a imagem do seu produto, a reportagem a associava com uma opinião diversa da que possui. Ou seja, a Vitamedic não concordava com a opinião da Merck.
A Record substituiu a imagem do medicamento na reportagem, passando a exibir caixas de Mectizan, a ivermectina da Merck.
Ao julgar a ação improcedente, e condenar a Vitamedic a pagar as custas, o juiz da 9ª Vara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo afirmou que "a notícia demonstrou circunspecção ao expor de forma explícita que a declaração foi emitida pela farmacêutica global Merck Sharp & Dohme Corp., o que está expresso tanto na manchete, quanto no corpo do texto".
Acrescentou: "Com efeito, a notícia não veicula informação temerária, sendo inócuas neste debate ilações sobre a eficácia do medicamento para o tratamento da Covid-19, porquanto o fato noticiado é objetivo e alheio às discussões científicas quando apenas trata de um pronunciamento resoluto de uma empresa terceira sobre o emprego terapêutico da ivermectina contra a covid-19".
E ainda: "Ademais, não há qualquer torção maliciosa na notícia, a qual não volta em qualquer momento para a depauperação da imagem da empresa autora. Nesse sentido, a ilustração com o remédio fabricado pela requerente não é capaz de confundir o interlocutor, porque a farmacêutica parte neste feito sequer é citada na matéria, ficando evidente que o fato noticiado se limita a um discurso adotado especificamente pela Merck."
A Vitamedic ainda pode recorrer.