Topo

Mauricio Stycer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Perto da eleição, Igreja Universal e Record ampliam demonização da esquerda

Colunista do UOL

26/01/2022 07h01

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Um texto publicado esta semana no site da Igreja Universal tenta explicar ao leitor "porque um cristão de verdade não pode nem deve compactuar com ideias esquerdistas". A publicação lista cinco supostas diferenças entre a forma de pensar de uma pessoa cristã e uma de esquerda, defendendo a ideia de que são incompatíveis.

A pregação é encerrada com uma frase do bispo Renato Cardoso, genro de Edir Macedo, fundador da igreja: "Se você se diz cristão e ainda vota na esquerda, há apenas duas possibilidades: ou você não segue realmente os ensinamentos do cristianismo ou os segue e ainda não entendeu o que a esquerda é verdadeiramente".

Essa demonização da esquerda por parte da Igreja Universal causa estranhamento quando se lembra o apoio que deu aos dois governos Lula e ao primeiro governo Dilma, do PT. Entre 2012 e 2014, na gestão de Dilma, o então senador Marcelo Crivella, sobrinho de Macedo, foi ministro da Pesca.

A aproximação com Bolsonaro começou ainda em 2018, durante a campanha eleitoral. Macedo apoiou a eleição e tem defendido o presidente e o governo de forma quase incondicional. Em setembro de 2019, o fundador da Igreja Universal abençoou Bolsonaro no Templo de Salomão e disse: "Vamos continuar orando pelo nosso presidente. A mídia toda é contra ele. E eu sei o que é isso. Porque nós vivenciamos o inferno da mídia, das pancadarias dela, porque ela é imprensa marrom".

Nestes últimos anos, em duas situações a igreja manifestou discordância aberta do governo. Em maio do ano passado, criticou a inação do Ministério das Relações Exteriores durante a crise enfrentada pela instituição em Angola. E tem dados seguidos sinais de apoio às campanhas de vacinação contra covid, apesar da pregação antivacina de Bolsonaro. Os telejornais da Record também têm criticado a política econômica, culpando o ministro Paulo Guedes, mas poupando o presidente.

O Republicanos, ligado à Igreja Universal, faz parte do Centrão, que dá sustentação ao governo Bolsonaro. Um deputado do partido, João Roma (BA), é desde o ano passado ministro da Cidadania, pasta que concentra ações e programas de alcance social, como o auxílio emergencial e o Auxílio Brasil (ex-Bolsa Família).

Os ataques à esquerda se intensificaram em 2021. Em setembro do ano passado, após os atos antidemocráticos promovidos por Bolsonaro no Dia da Independência, o jornal da Igreja Universal publicou um editorial criticando a cobertura da imprensa. "É que jornalistas e intelectuais em geral aprenderam a enxergar a realidade social sob a ótica do marxismo", dizia o texto, citando um sociólogo.

No mês seguinte, o "Jornal da Record" deu início à exibição de uma série de reportagens em que acusa, sem provas, o PT e seus dirigentes de terem sido financiados pelo narcotráfico. A fonte das reportagens foi uma jornalista espanhola, segundo o PT, "conhecida por espalhar fake news e teorias conspiratórias na Europa". Após cinco matérias exibidas em três semanas, o partido entrou com uma ação de calúnia e difamação contra a emissora.