Natália Portinari

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PRF diz faltar orçamento para fiscalizar BR-319, foco de desmatamento

A PRF (Polícia Rodoviária Federal) alegou, em ofício ao Ministério da Justiça, que não tem efetivo suficiente para manter agentes regularmente nos postos da BR-319, rodovia entre Porto Velho e Manaus que atravessa a Amazônia e que o governo quer pavimentar.

O anúncio do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes) de que iria pavimentar a rodovia —o que ainda não aconteceu— provocou um aumento de 122% no desmatamento no entorno da estrada entre 2020 e 2022, segundo dados da ONG Observatório BR-319.

Apesar da queda nessa taxa de desmatamento nos anos seguintes, já foram desmatados 527,2 mil hectares na área de influência da estrada desde 2020, cerca de 3,5 vezes a área do município de São Paulo.

A região é um dos focos de atenção do Ibama, e há entraves na fiscalização. Órgãos ambientais tentam coibir o transporte de madeira ilegal e a grilagem de terras, inclusive de territórios indígenas, ao longo do trajeto da estrada.

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Imagem: Arte/UOL

Há três postos da PRF para fiscalizar os 885 quilômetros de rodovia, que estariam completamente inoperantes, segundo um ofício enviado pelo deputado Amom Mandel (Cidadania-AM) ao Ministério da Justiça pedindo esclarecimentos.

Em uma viagem pelo trajeto, Mandel gravou vídeos mostrando os postos vazios. O ofício foi direcionado à PRF, que respondeu ao ministério em 22 de abril, prestando esclarecimentos e alegando falta de orçamento.

Segundo a PRF, os postos estão ativos, mas não há efetivo o suficiente para mantê-los ocupados a todo momento. São 106 policiais rodoviários na Regional do Amazonas, empregados na esfera operacional e administrativa, contingente "flagrantemente insuficiente", segundo a PRF.

"Esses deslocamentos dependem da disponibilidade de efetivo, e o reduzido número de policiais na SPRF-AM tem comprometido essa viabilidade."

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O contingente "mostra-se flagrantemente insuficiente para atender às crescentes demandas regionais, considerando a vasta extensão territorial, as condições logísticas deficitárias, infraestrutura precária em alguns postos e a necessidade de cobertura de longos trechos rodoviários, prejudicando, assim, a eficiência e a qualidade dos serviços prestados", diz o ofício do órgão.

"A situação se agrava especialmente no caso da Unidade Operacional de Humaitá (no km 0 da BR-319), cuja localização, significativamente distante da capital do Amazonas, dificulta a fixação do efetivo no local, resultando em alta rotatividade e na descontinuidade das ações de fiscalização e patrulhamento."

A falta de pessoal gera problemas porque, muitas vezes, é a PRF que apreende a madeira ilegal transportada por ali, além de identificar outras ilegalidades.

"Desse modo, fatores como restrições orçamentárias e efetivo incompatível com as demandas comprometem a capacidade da instituição, afetando diretamente a eficácia da fiscalização na região e, consequentemente, a segurança viária e ambiental", argumentou a instituição em sua resposta.

O Dnit está trabalhando junto ao Ibama para obter uma licença de instalação para pavimentar a rodovia, mas ainda não entregou o plano básico ambiental, documento necessário para conseguir a autorização.

Procurada pelo UOL, a PRF acrescentou que em 2024 houve um fortalecimento regional, "com a criação da Delegacia de Humaita, estrutura antes inexistente, funcionando apenas como unidade de apoio", e que foi aprovado um curso de formação policial para cerca de 600 novos policiais para reforço na região amazônica.

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"O policiamento é inviabilizado parcialmente na maior parte do trecho por falta de estrutura viária no período de chuva. A BR-319 fica intransitável para quase todos os tipos de veículos", disse o órgão.

O ofício foi assinado por Roberth Aguiar Campos, chefe de gabinete do diretor da PRF, Antônio Fernando Souza Oliveira.

Procurada pelo UOL, o Ministério da Justiça negou que falte fiscalização na rodovia. "Cabe salientar que a BR-319 é atendida e monitorada por meio de três postos da Polícia Rodoviária Federal, sendo duas unidades operacionais e uma unidade de apoio, todas em funcionamento."

"Sendo assim, o Ministério da Justiça e Segurança Pública afirma que não há ausência de fiscalização na rodovia, como mostram dados de operações realizadas nos trechos citados na reportagem. Entre 1º/1/2024 e 2/4/2025, foram flagrados 37 crimes ambientais, que resultaram na apreensão de 265,7 metros cúbicos de madeira extraída irregularmente, apreensão de 11,4 toneladas de pescado irregular, 2,2 quilos de cocaína e 229,3 quilos de maconha e skunk."

"Neste contexto, cabe salientar que a PRF investiu mais de R$ 250 mil em convocações diárias, passagens e Indenização por Flexibilização Voluntária do Repouso Remunerado para assegurar a atuação policial contínua e reforçar a fiscalização na BR-319 e BR-230. Ainda assim, há o entendimento do Ministério de que o aumento do efetivo na região é uma ação necessária."

O ministério citou, ainda, o esforço para formar novos policiais. "Nesse sentido, há a previsão de investimentos para modernizar e ampliar a infraestrutura dos postos, entre eles, está a proposta para a reforma e ampliação da unidade operacional de Humaitá, além da aquisição de equipamentos e tecnologias que melhorem a eficiência da fiscalização."

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