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Observatório das Eleições

Direita larga na frente nas capitais

Celso Russomano, pré-candidato à prefeitura de São Paulo pelo Republicanos - Reprodução/Facebook
Celso Russomano, pré-candidato à prefeitura de São Paulo pelo Republicanos Imagem: Reprodução/Facebook

10/10/2020 12h18

Oswaldo E. do Amaral*

Nos últimos dias, várias análises, algumas delas publicadas neste Observatório das Eleições, destacaram o avanço das candidaturas de partidos de direita em 2020, sugerindo que a onda política conservadora que tomou conta do país em 2018 ainda não teria terminado.

Iniciada a corrida eleitoral de 2020, como andam as disputas nas capitais por bloco ideológico? A direita está mesmo em posição de vantagem? Com base em pesquisas publicadas nos últimos dias em 21 capitais já é possível traçar um panorama.

Como foi em 2016

Em 2016, a direita venceu em 5 capitais (19%), o centro, em 12 (46%), e a esquerda, em 9 (35%). O MDB com vitórias em quatro capitais e o PSDB, com sete triunfos, comandaram o protagonismo dos partidos de centro. Na esquerda, o PDT levou três capitais e o PSB, duas. O PT, em forte crise, venceu apenas em Rio Branco. O PSD liderou o bloco da direita, com conquistas em João Pessoa e em Campo Grande.

MDB e PSDB animaram-se com os resultados. Tudo parecia convergir para o sucesso em 2018 da coalizão que derrubara Dilma Rousseff. No entanto, esse não era o plano dos líderes da Operação Lava-Jato. Em 2017, MDB e PSDB foram alvos de denúncias e investigações. Com o objetivo de mostrar imparcialidade e de "sanear" o sistema político brasileiro, os "revolucionários" de Curitiba implodiram as ambições nacionais dos principais partidos de centro e abriram espaço para a ascensão de Jair Bolsonaro - uma consequência inesperada de todo o processo, talvez (?). O resto é história. Os principais partidos da Nova República ficaram marcados pelos escândalos de corrupção e perderam espaço para a "nova" direita conservadora.

Mesmo considerando as diversas dinâmicas locais, esse processo ainda parece em curso, especialmente entre as elites políticas, que se reorganizaram bastante entre 2017 e 2020.

Em 2020, a direita está na frente

Até o momento, é possível analisar as corridas eleitorais em 21 capitais a partir de pesquisas divulgadas por meios de comunicação. O que temos então? Partidos de direita lideram em onze (52%), de centro, em 5 (24%), e de esquerda, em 5 (24%).

O DEM está na frente em quatro capitais (Salvador, Rio de Janeiro, Curitiba e Florianópolis), seguido pelo PSD (Campo Grande, Goiânia e Belo Horizonte) e pelo PSDB (Palmas, Rio Branco e Natal). No bloco de esquerda, a dispersão é grande, com PT, PSOL, PDT, PC do B e PSB liderando, cada um, em uma cidade.

Já ganhou?

Ainda falta tempo para o primeiro turno e os eleitores vêm tomando decisões cada vez mais perto do dia de ir à urna. No entanto, em algumas capitais as disputas parecem bem encaminhadas e podem terminar ainda na primeira volta. Em Salvador, Curitiba e Florianópolis, Bruno Reis, Rafael Greca e Gean Loureiro, os três do DEM, contam com mais de 40% das intenções de voto, segundo o Ibope. Nada, porém, se compara ao desempenho de Alexandre Kalil (PSD) em Belo Horizonte. O ex-presidente do Atlético Mineiro e atual prefeito aparece com 56% das intenções de voto segundo a última sondagem do Datafolha.

O Triângulo das Bermudas

Desde a Nova República, apenas em 2016 nenhum partido de esquerda venceu nas capitais de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, o chamado Triângulo das Bermudas da política brasileira. O evento parece que vai se repetir em 2020. Em nenhuma das três cidades, candidatos de esquerda estão entre os dois primeiros colocados.

Falta tempo ainda para as eleições municipais, e muito mais tempo para 2022. O quadro atual, no entanto, não parece favorável aos partidos de esquerda.

Candidatos na liderança das disputas nas capitais

  • Belém: Edmilson Rodrigues (PSOL)
  • Manaus: Amazonino Mendes (Podemos)
  • Palmas: Cinthia Ribeiro (PSDB)
  • Rio Branco: Minoru Kinpara (PSDB)
  • Aracaju: Edvaldo Nogueira (PDT)
  • João pessoa: Cícero Lucena (PP)
  • Maceió: Alfredo Mendonça (MDB)
  • Natal: Álvaro Dias (PSDB)
  • Recife: João Campos (PSB)
  • Salvador: Bruno Reis (DEM)
  • São Luis: Eduardo Braide (Podemos)
  • Campo Grande: Marquinhos Trad (PSD)
  • Cuiabá: Emanuel Pinheiro (MDB)
  • Goiânia: Vanderlan Cardoso (PSD)
  • Belo Horizonte: Alexandre Kalil (PSD)
  • Rio de Janeiro: Eduardo Paes (DEM)
  • São Paulo: Celso Russomanno (Republicanos)
  • Vitória: João Coser (PT)
  • Curitiba: Rafael Greca (DEM)
  • Florianópolis: Gean Loureiro (DEM)
  • Porto Alegre: Manuela D'Ávila (PCdoB)

Nota metodológica

Esquerda: PC do B; PDT; PMN; PSB; Psol; PT; Rede
Centro: (P)MDB; PSDB; PPS/Cidadania
Direita: DEM; PHS; Podemos; PP; PRB/Republicanos; PSD

* Oswaldo E. do Amaral é professor do departamento de Ciência Política da Unicamp e diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da mesma instituição.

Esse texto foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições de 2020, que conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras e busca contribuir com o debate público por meio de análises e divulgação de dados. Para mais informações, ver: www.observatoriodaseleicoes.com.br