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Olga Curado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O "mito" Bolsonaro ficou surdo e insiste em copiar o pastor Jim Jones

18.mar.2020 - Projeção em prédio de Santa Cecília, no centro de São Paulo, durante panelaço contra Bolsonaro - Arquivo pessoal
18.mar.2020 - Projeção em prédio de Santa Cecília, no centro de São Paulo, durante panelaço contra Bolsonaro Imagem: Arquivo pessoal

Colunista do UOL

04/03/2021 13h46Atualizada em 04/03/2021 13h53

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O Brasil caminha para a maior tragédia sanitária da sua história. Muitos dos que irão morrer estão sendo induzidos pela conduta da liderança que seguem e que parece se inspirar no pastor Jim Jones, aquele que em 1978 deu a ordem para que seus seguidores praticassem um suicídio coletivo. A ordem por aqui é tirar a máscara: matar e morrer.


O candidato à reeleição, deputado durante 27 anos na Câmara Federal, tem uma palavra para descrever a situação atual do país, diante da pandemia. É "pânico", segundo discursa do seu cercadinho para os lambedores das suas falas desconexas com a realidade, uma criação da imprensa, delira o capitão, sem olhar para os contêineres alugados para guardar corpos.


No seu mundo paralelo, o clamor das vozes e o choro das pessoas que enterram os seus mortos - cujo número projetado até o final ano, a continuar o negacionismo, será de meio milhão de vítimas fatais, muitas em vala comum -, não chega aos ouvidos do messias da cloroquina.


Se o choro não comove, as panelas vazias, tocadas em uníssono pelo país poderão romper os seus tímpanos. São elas que já amedrontam o candidato à reeleição, com a perda do que mais importa a ele, a popularidade e a fidelidade de um rebanho que marcha para o matadouro. É o panelaço mostrado por todas as mídias que poderá ser escutado nos gabinetes de ódio que articulam e disseminam mentiras.


Profissionais da saúde, cientistas, estão todos roucos de gritar, de mostrar estudos, estatísticas, de implorar para que as pessoas acreditem na ciência. Governadores, prefeitos - em grande parte - desesperados tentam fazer com que a população aceite as recomendações e são confrontados com o cinismo do capitão, que tem uma única meta: criar uma dinastia no poder, como Hugo Chávez, que engoliu por dentro, com o seu séquito de militares, a mais antiga democracia da América do Sul.


O imbrochável capitão, com passado de atleta, tem modelos e se espelha neles, porque viu os resultados que combinam com o seu propósito. Jim Jones e Hugo Chávez são fontes de inspiração, assim como o amigo derrotado, Donald Trump, de quem já toma emprestado o discurso antecipado de 2022, de fraude eleitoral, prevenindo-se de uma derrota nas urnas.


E não adianta gritar, e não adianta jornalistas acamparem nas portas dos hospitais e recolherem e divulgarem as histórias de dor, de medo e desesperança. Não adianta, o capitão está surdo para o que não lhe convém. Escuta apenas o que seus próceres recitam, deslumbrados com acesso ao poder e às possibilidades de também terem as suas mansões à beira do lago Paranoá, em Brasília. E, além de não escutar, não sabe ler mais do que as suas próprias mídias sociais. Usa livros como fundo para "lives".


O Brasil caminha para a maior tragédia sanitária da sua história. E, se repetir isso à exaustão não servir para acordar as lideranças da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, para que não sejam sócios de um genocida, que as panelas gritem em todo o Brasil e rompam a inércia de todos nós que nos acomodamos na tristeza e na impotência, diante do horror.


Que as panelas interrompam a marcha dos insensatos que segue esse fake messias, mitificado pela ignorância dos que apenas conseguem ouvi-lo, e não transformem o Brasil em uma nova Jonestown. Que as panelas mantenham o falso messias no cercadinho de onde não possa sair para implantar o caos.