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Bolsonaro encena liderança, mas os cavalos empinam a carroça
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O jogo de cena acabou com uma foto em que o capitão parecia ter conseguido o seu objetivo, instruído por um aprendiz de feiticeiro, o ministro das Comunicações, Fábio Faria. Eles querem outras notícias na mídia. Não deu certo.
Acham que tudo se resolve ajustando a cobertura da imprensa. Para que noticiem os curados e não os mortos. E não se dão conta de que, entre os sobreviventes da covid-19, estão pessoas que requerem tratamento adicional, em especial de reabilitação, entre outros cuidados que a rede pública de saúde, neste momento, também não consegue prover.
O ex-deputado federal durante 27 anos mostrou, nos gestos improvisados de comunicação - um mentiroso pronunciamento em rede nacional, depois na demissão-oficializada do general almoxarife e nomeação de um médico político para o Ministério da Saúde - por que nunca saiu do baixo clero da Câmara. A estridência dele nunca teve ressonância no Congresso, mas ganhou as ruas quando era candidato e foi esfaqueado, com alta médica se negou a debater propostas com os concorrentes na eleição presidencial e se valeu de avalanche de fake news.
Ganhar no grito, com versões fantasiosas sobre a realidade, tentando encobrir decisões desastrosas, acendeu "a luz amarela". O interruptor foi acionado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira. O cavalo empinou a carroça. Se o próximo passo não for enquadrar o capitão, terá sido apenas uma bela retórica. Não parece ser o caso.
O ex-deputado tem motivos para ficar em pânico. Ele tenta reiteradamente transferir a responsabilidade do fracasso no manejo da pandemia para o Congresso, para o STF e agora para um meio-ministro Queiroga, que tem muitas papas na língua.
A tomada de decisão que contrarie as crenças do capitão assusta o assustado novo meio-ministro. O que ele pode? Ele pode e poderá dependendo a quem se alinhe. Visitou o Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas) e quase foi escorraçado pelas pessoas que vivem a realidade e não no país imaginário do capitão. Um primeiro contato pessoal com o que as estatísticas contam. São mais de 300 mil mortos, são UTIs lotadas, é a falta de remédio para intubação, são profissionais da saúde exaustos.
E tem mais assustando os cavalos.
O general Mourão, o vice, descobre que o número de mortos no Brasil "ultrapassou o limite do bom senso". Qual seria o número do bom senso? O cavalo empina a carroça. É uma empática declaração do general, mas espera-se que seja mais que uma solidariedade tardia. Tem ele o mandato de algum grupo - generais que servem ao seu governo - ou apenas fala da própria perplexidade? Alguma força há de representar, porque não lhe tomaram a Amazônia para presentear o intendente-almoxarife general, um Pazuello agora sem foro, relegado à primeira instância, para ser julgado pela incúria, irresponsabilidade e omissão na pandemia.
O capitão-escorpião tentou picar a tartaruga, o Congresso parceiro que o carrega nas costas, mas o bicho escondeu a cabecinha e assustou os cavalos, que empinaram a carroça. É nessa sequência. A tartaruga tem casco grosso e vive muito. Os cavalos que puxam a carroça onde viaja o capitão são os seus servis vassalos e o seu discurso mentiroso.
O presidente da Câmara virou porta-voz de bolsonaristas envergonhados, donos de parte do PIB que fazem coro com o clamor público pelo fim do negacionismo. O presidente do Senado vira porta-voz de governadores que foram ignorados pelo Comitê, no gesto que pretendia sinalizar união nacional na luta contra a pandemia. E o senador também rechaça um negacionista que fulmina as pontes do Brasil no exterior, o diplomata fracassado Ernesto Araújo.
O capitão é um homem em busca de um discurso. Quer fazer ecoar uma fala em que criminalize a todos pelos crimes que lhe podem ser atribuídos. Faz as armadilhas, mas os cavalos se assustam e a carroça empinou. Diga o que disser o capitão.
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