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Olga Curado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro será "puxado pelo beiço" na Cúpula do Clima e na CPI

Presidente Jair Bolsonaro - Adriano Machado/Reuters
Presidente Jair Bolsonaro Imagem: Adriano Machado/Reuters

Colunista do UOL

20/04/2021 12h56Atualizada em 20/04/2021 13h07

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Mais do que discurso se comprometendo em reduzir o desmatamento, o capitão terá, nos seus minutos de holofote durante a Cúpula de Líderes sobre o Clima, nos dias 22 e 23 de abril, que apresentar datas, números e programas de ação.

A retórica da diplomacia e um texto bem-feito pelos escribas do Itamaraty não bastam para convencer o mundo das boas intenções e da capacidade do governo brasileiro em conter a depredação ambiental, que agora, em março, alcançou recordes históricos. O capitão será "puxado pelo beiço", como se diz no interior do Tocantins, quando se quer levar o boi renitente.

Ex-amigo e agora distante crítico, o deputado Julian Lemos (PSL-PB) assegura que não haverá mudança previsível do capitão, que responde sempre com paixão insuflada pelos filhos, cuja palavra é o seu Norte.

"O maior inimigo dele é ele mesmo. É uma pessoa ingrata", sentencia o deputado, ao analisar a tentativa de o capitão voltar ao PSL para ser candidato à reeleição em 2022, exigindo como condição que o ex-amigo seja expulso do partido.

O capitão queima pontes porque acredita, na sua impulsiva leitura dos fatos, que não precisará retornar, e vai montando a estratégia baseada nas correntes de vento. Mas ele não nega a própria essência.

As crenças do capitão são definidas seguindo a lógica dos seus interesses imediatos e da conveniência do momento. Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, irá recepcionar 40 líderes para discutir a pauta da preservação do meio ambiente, como um tema mundial, e cobrará do Brasil o cumprimento da sua responsabilidade no cuidado com a Amazônia.

Receberá acenos com pouca convicção. E o capitão dirá que o Brasil não é réu. O vice-presidente Hamilton Mourão tem na ponta da língua que o Brasil é responsável apenas por 3% das emissões... É um ensaio. Vai que cola.

Por outro lado, líderes empresariais brasileiros criam o seu plano próprio para lidar com os riscos do negacionismo ambiental, fruto do aprendizado do negacionismo da covid-19, que reduziu o acesso do Brasil às vacinas. Desenham soluções para demonstrar ao mundo a convicção de que a pauta ambiental não é debate ideológico. Também reconhecem que esperar a ação do governo do capitão é contar com o ovo que a galinha não botou.

O capitão é antiquado. Aferra-se a informações há muito superadas pelos fatos. Coloca-se como os inquisidores do século XVI, que ameaçavam tornar herege o pai da ciência Galileu Galilei, que afirmava estar o sol no centro do sistema solar, e não a Terra. Assim, o negacionismo levou muita gente para a fogueira. No Brasil, milhares de brasileiros estão nos cemitérios, nas UTIs, nas filas de espera por tratamento.

Mas o capitão "será puxado pelo beiço". Será levado pela CPI lenta e gradualmente, até que chegue à porta do matadouro e aí irá negociar clemência. Entregará o que tiver para se manter de pé. E haverá soluções contábeis, mágicas, de ocasião, como foi o encontro de contas para salvar a maior parte das emendas parlamentares do orçamento e garantir aos deputados os bilhões que lhes deem a simpatia das suas bases eleitorais na disputa de 2022. São agora R$ 16,5 bilhões para os gastos dos deputados.

Não se pode dizer, porém, que o capitão deixará de espernear. Tem a diligente despachante, a doutora Lindôra Araújo, acossando os governadores, a serviço de Augusto Aras, o procurador que sonha com uma cadeira no STF (Supremo Tribunal Federal). A doutora quer saber como os governadores gastaram o dinheiro que o governo federal, por obrigação legal, repassou a estados e municípios.

Afinal, indaga a despachante, por que os governadores desmontaram os hospitais de campanha ano passado, se agora faltam leitos? É a lógica do capitão, que se imiscui no raciocínio tortuoso da instituição, que se curva ao medo do capitão.

A incúria, inépcia, incompetência gigantesca do Ministério da Saúde em manejar a pandemia não poderia ser imaginada. Foi depois, quando se negou a comprar vacina, quando não aceitou as regras da contaminação do vírus, que se desenhou a tragédia. Não antes.

Espernear, fazer espuma, gritar, xingar - embora apenas provoquem desgaste, com perda de energia desnecessária por parte de quem tenta conter a balbúrdia - estão no script do capitão. Mas ele não é o único roteirista.