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Olga Curado

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Bolsonaro acha que cuspe apaga o fogo que incendiou a Amazônia e o Pantanal

22.abr.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fala na Cúpula de Líderes sobre o Clima e afirma que o Brasil está na "vanguarda" em medidas de proteção ao meio ambiente - Reprodução
22.abr.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fala na Cúpula de Líderes sobre o Clima e afirma que o Brasil está na 'vanguarda' em medidas de proteção ao meio ambiente Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

22/04/2021 14h25Atualizada em 22/04/2021 14h25

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Duas bandeiras do Brasil, paletó desarrumado, colarinho frouxo, gravata verde. Um exemplo de deselegância, reforçada por uma fala sem convicção, lendo um discurso em que não acredita.

Nem ele acredita e nem quem o escutou. Foi pedir um dinheiro aí, como se os líderes presentes à Cúpula do Clima soubessem a respeito da realidade pela boca do capitão. Os fatos são contundentes, explícitos, reconhecíveis. O histórico de interesse em preservação da Amazônia e em respeitar o meio ambiente não dá argumentos para que o mundo confie que o bilhão de dólares que o capitão quer seja realmente utilizado na defesa ambiental.

Mas, deve-se louvar a falsa humildade do capitão diante do mundo, que é o reconhecimento de que os governos que o antecederam foram os responsáveis pela boa imagem do Brasil no exterior em relação às práticas conservacionistas.

Biden terá a chance de rever a fala do capitão, já que tinha coisa mais importante para fazer enquanto este discursava. E foram palavras, palavras, nada mais que palavras, escritas corretamente pelo assessor internacional de plantão, mas que não refletem a política do governo federal. Os números do atual governo medem a devastação e leniência em relação à preservação da Amazônia.

O capitão é um cara de pau. Não sabia o que estava lendo.

A capacidade de anunciar compromissos em que não acredita e sem que tenha demonstrado, ao longo do mandato, disposição em realizar. Traz número que não combina com todas as iniciativas do governo.

Governança da terra, valorizar a floresta e a biodiversidade foram palavras do discurso do capitão. Mas, o que ele quis dizer com isso quando muda as regras de fiscalização, reduz os recursos os órgãos ambientais, e vem pedir mais dinheiro à comunidade internacional, e quando deixa mais de R$ 2 bilhões congelados, porque dispensou doação da Noruega e da Alemanha, em nome da "soberania"?

A cara de pau do capitão é inacreditável. A coragem de ir para a Cúpula e falar de coisas que fará e que fez e que não correspondem aos fatos é um exemplo da habilidade de camaleão de ocasião. Ele se esquece de citar a demissão do delegado que denunciou criminalmente Ricardo Salles junto ao STF (Supremo Tribunal Federal), por ligação com madeireiros autuados por desmatamento.

O capitão é um passadista. Um anacrônico nanico intelectual. Mas usa o mandato para representar o país que envergonha internacionalmente, quando fala, sem pudor, do que não sabe e não acredita, enquanto torce para que, de fato, o vassalo Salles "passe a boiada".

Joe Biden e os convidados dele na Cúpula de Líderes estão olhando para frente, para a responsabilidade de uma geração em assegurar o futuro. O capitão se socorre do que foi feito em outros governos do país para encobrir o que deixou de fazer.

Que o dinheiro que possa vir da comunidade internacional não passe pela carteira do capitão ou do Salles. Eles não têm autoridade histórica para garantir que os recursos sejam destinados à governança da terra, valorização da floresta e preservação da biodiversidade.

Não há cuspe nem retórica suficientes que possam apagar as convicções do capitão. É mais um discurso de ocasião. É o camaleão oportunista querendo fazer bonito. Que feio. Podia ter aproveitado para reconhecer que errou.