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Olga Curado

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Ministro tíbio e senador com estudo desacreditado tentam blindar Bolsonaro

Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na CPI da Covid - Jefferson Rudy/Agência Senado
Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na CPI da Covid Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Colunista do UOL

06/05/2021 16h30Atualizada em 06/05/2021 16h30

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Tíbio, evasivo, medroso. Um Queiroga "rolando lero" a serviço do capitão.

O meio-ministro Queiroga tem chavões e dificuldade de demonstrar capacidade de gestão da pandemia. Foge como cão danado de se posicionar, trabalhando com o adiamento de qualquer clareza. O modelo do Queiroga é transferir para mais adiante qualquer decisão, qualquer opinião. E não contrariar o capitão.

E com a bola jogada para marcar, não hesita em compor o coro da estratégia de defesa do capitão reformado.

O senador Eduardo Girão não se faz de rogado - vem com o seu discurso pronto, apontando falsamente que existem dúvidas em relação ao tratamento precoce. Cita a existência de estudos "randomizados, com duplo cego" que aprovam o uso de medicamento do kit covid do capitão. Com dificuldade na pronúncia do nome em inglês, cita o pesquisador Andrew Hill, escondendo os fatos. O tal estudo, publicado em janeiro, não tem os resultados apontados pelo senador da tropa de choque.

E o meio-ministro Queiroga segue com o jogo ensaiado. Tem também o seu mantra, segundo o qual há uma divisão na ciência, em relação à eficácia do tratamento da Covid-19. Se há adeptos da receita do capitão reformado, é uma escolha que nada tem a ver com a ciência.

Dentro do script ensaiado, o jogo continua. A defesa da tropa de choque segue com o outro mantra: o da corrupção e desvio de recursos públicos. Cinicamente, vem a pergunta:

- O senhor não acha que a corrupção teria piorado os efeitos da pandemia?

- Claro - diz o ministro-fantoche.

E o cinismo prossegue:

- E não seria falta de investimento em saúde, no sistema público, um fator importante para as dificuldades em conter a pandemia?

- Sem dúvida - segue o boneco de ventríloquo.

Ainda o cinismo conivente:

- E não seriam as eleições autorizadas pelo ministro Barroso, com as aglomerações, um fator decisivo no aumento da contaminação?

O fantoche atento:

- Sim, e o Carnaval.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia não recomenda o uso da hidroxicloroquina. Concorda?

- O coração para ou não para? Pergunta o senador Otto Alencar (PSD-BA).

O boneco de ventríloquo foge:

- Sigo a lei (!)

A quem serve o atual ministro da Saúde do Brasil?

Qual o compromisso do médico que está ocupando o cargo de ministro da Saúde do Brasil?

Ocupou o tempo dos senadores e do país fazendo esquivas, com olho arregalado e mãos nervosas, tentando defender o indefensável, mas mantendo o cargo. Treinado em datas para livrar a própria cara da incúria e incompetência. Gastou tempo dos senadores e do país falando de iniciativas cujos resultados não protegeram ou não impedem o avanço da tragédia.

Tentou criminalizar governadores. E insiste em proteger o capitão: "A única recomendação feita pelo presidente da República foi para que cuidasse que os recursos púbicos fossem usados em políticas públicas. Lamentável que isso exista".

Tentou responsabilizar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Tentou justificar cloroquina.

Vem com fala de missionário pela unidade, pelo consenso, dentro de um aparvalhado discurso. Não tem a coragem dos que falam em defesa da saúde, contrariando leigo que prescreve sem conhecimento e responsabilidade.

A quem serve o ministro da Saúde do Brasil?