Topo

Olga Curado

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Bolsonaro revigora corrupção com "orçamento secreto" de olho em 2022

Jair Bolsonaro com Arthur Lira  - Reprodução
Jair Bolsonaro com Arthur Lira Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

10/05/2021 09h44Atualizada em 10/05/2021 14h25

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O escândalo da pandemia não inibiu o governo do capitão reformado na cantilena de zelo pelo dinheiro público, lançando mísseis contra governadores e prefeitos, para que expliquem o uso de recursos para o manejo da saúde. O argumento que inflou o objeto de investigação a CPI da Pandemia, ou CPI da Cloroquina, e ainda CPI da desfaçatez para com a saúde da população, vende o panfleto de campanha de honestidade, agora desmentida em notícia publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo. O repórter Breno Pires desvela a existência de R$ 3 bilhões destinados a parlamentares, sem exigência de qualquer justificativa para recebimento do dinheiro.

O levantamento detalhado e meticuloso do jornalista revela o manejo do orçamento sem qualquer controle de órgãos de fiscalização, em benefício daqueles que louvam o capitão. Um escândalo nomeado de "mensalão" criou uma nódoa em governo do PT. Era a tal caixinha para garantir votos no Congresso, em matérias de interesse do governo federal. Agora é o "emendão", um tratoraço.

As tais emendas - ou quotas dadas aos ilustres parlamentares para a compra de retroescavadeiras que, aparentemente, foram adquiridas com preço muito acima do mercado. Se o nome disso não for corrupção, o "Houaiss", nosso querido dicionário, tem o desafio de encontrar uma nova palavra para descrever o uso secreto de dinheiro público por grupo de parlamentares fiéis ao governo federal.

A Codesvasf (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco), criada no governo militar para apoiar projetos dos municípios às margens do São Francisco, agora mudou o trajeto do rio. O São Francisco se espraia por outros mil municípios, graças à criatividade do capitão, que lançou as águas da integração nacional a mais de 1.500 quilômetros de distância do leito desenhado nos mapas.

A pequenez dos que se beneficiam com a iniciativa de uso do dinheiro público, longe do olho das instituições de controle, e que junta parlamentares e o gabinete da Presidência da República, revela o real compromisso de cada um: a sobrevivência eleitoral em 2022. São anões morais que não aprendem com aqueles que fazem a escolha da vida pública para trabalhar pelo bem comum.

Os governos paralelos se mostram ao país que lê, e que toma conhecimento estupefato. De um lado, o "ministério paralelo", escondido do regramento institucional, cria a estratégia de comunicação do capitão e estabelece políticas de saúde. Um filho numerado organiza os argumentos e define a postura de um inseguro e medroso capitão reformado, fiel à crença de que foi eleito pela ação da milícia na internet. É um gabinete à margem do escrutínio das decisões técnicas e institucionais. Suas deliberações surgem nos discursos e comportamentos erráticos de um capitão cujo limite de entendimento da realidade nacional parece cada vez mais improvável.

E agora surge um outro "ministério paralelo", aparentemente estruturado com base no fisiologismo do qual um presidente da Câmara, Arthur Lira, não parece distante. Tem as digitais dele impressas na pressão para que os seus recebam a "quota" que lhes irá garantir campanhas para a reeleição, com as burras cheias, guardadas zelosamente em "verba secreta".

A determinação daqueles que se acostumaram a viver nos palácios faz com que passem por cima da honradez.

E, mergulhando no dinheiro público para ser gasto a bel prazer dos acólitos palacianos, reúnem-se no silêncio conivente e omisso na condenação de outras barbáries. De um lado, a pandemia assassina pelas mãos dos responsáveis incompetentes, e agora também a chacina no Jacarezinho. É o quadro de uma gestão em que a morte tem uma única explicação: são todos bandidos.

É a justificativa para inépcia, incompetência e hipocrisia. É um outro nome para corrupção.

A corrupção de "verba secreta". Parte do desmanche de uma campanha de um capitão que é ninado no colo do Centrão e dorme com a cantilena do ódio.