Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Testemunho de Bolsonaro na CPI é simbólico; verdade não depende dele
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A presença do capitão reformado seria necessária na CPI da Pandemia para esclarecer as meias verdades, aproveitando que parece ser ele o guia que ilumina e orienta as decisões e os caminhos dos executores da sua política negacionista. Mas isso não irá acontecer. A exigência é a verdade.
Fica o símbolo da convocação que não acontecerá. Prevalecem os atos e fatos. Não há sinal de que o discurso e as práticas do capitão revelem qualquer arrependimento ou compreensão de sua responsabilidade na tragédia com centenas de milhares de mortos, agora beirando o meio milhão de vítimas da Covid-19, e tantos milhares de sequelados.
É preciso consenso para levar o capitão ao Senado. E isso não haverá. De nada adiantaria. Ele vive num universo paralelo. Nesse mundo de ilusão fantasmagórica, o capitão tudo teria feito como tudo faz, afirmando que é um sucesso na contenção da pandemia!
Então segue a CPI.
Virão os governadores na fila das explicações, na tentativa política de confundir quem é quem na tragédia brasileira. Na tese do capitão, os governadores tiveram dinheiro à rodo para que todas as providências pudessem ser tomadas, a fim de proteger a população brasileira da contaminação fatal pelo coronavírus.
O que faltou para que a tragédia fosse evitada?
Quem são os culpados?
A "Capitã Cloroquina", a tal pediatra Mayra Pinheiro, já deu aos senadores a resposta que poderia encerrar a CPI: "A culpa é do vírus", falou. De tão meridiana a verdade, parece ser uma provocação.
E não há desistência à vista na tentativa de o capitão e seus próximos abandonarem a diluição de culpa. Sobrevivem vitaminados no universo paralelo.
A expectativa é que a lógica dos testemunhos seja obedecida em nome da clarificação dos fatos pela CPI da Pandemia.
Ainda estão pendentes a identificação daqueles que criam as políticas de saúde do país no enfrentamento da pandemia. Se há o gabinete secreto, cujas opiniões são seguidas pelo capitão, já que a OMS (Organização Mundial da Saúde) e entidades científicas não merecem crédito, como declarou a "Capitã Cloroquina", a quem segue o capitão?
Para explicações devidas, encontra-se na fila de requerimentos o filho Zero qualquer coisa, o vereador Carlos Bolsonaro, o tal pitbull, aparentemente ocupado em fazer políticas públicas de saúde e em coordenar e executar a política de comunicação do governo, por meio de rede social misógina, homofóbica, negacionista. E com declarações condenáveis por qualquer critério em que o respeito é uma exigência nas relações humanas.
Por exemplo: para desqualificar um pedido de impeachment apresentado por artistas, o tal Carlos prefere fazer falinhas de mau gosto, mas tão ao gosto da família, que tem uma enciclopédia de dizeres que revelam a baixa cognição e o repertório baseado em conversas de botequim. No Twitter, outro filho do capitão ironiza o histórico do ex-jogador Casagrande - que supera uma dependência química - por assinar pedido de impeachment do capitão. Mas os filhos têm a indulgência de papai, a quem estimulam na direção do ódio.
Na CPI, a regra tem sido o contorcionismo de testemunhas, que se esforçam, na bancada do governo, em negar a realidade. E apostar na forma de "rolando lero", na coragem dos tolos ou como bonecos de ventríloquos (falando sem ser autores ou responsáveis, como o Queiroga).
Se a forma é mais importante que o conteúdo, para aqueles que não escutam o que está sendo dito, mas como está sendo falado, os fatos não podem ficar à deriva na retórica da mentira.
A expectativa é que a ciência seja respeitada no testemunho de cientistas. Virão o doutor Dimas Covas, do Instituto Butantan, a doutora Nísia Trindade Lima, da Fiocruz, que, entre outros, entre muitos outros, têm mais credenciais científicas que um ex-ministro da Saúde, o general da ativa Pazuello, que não entendia as atividades "finalísticas" do Ministério que dirigiu (como confessou à CPI), bem como de uma "Capitã Cloroquina", que quer ganhar no grito.
Enquanto isso, o capitão reformado fica sentado nas toras de madeira nativa da Amazônia, cuja extração teria sido facilitada, segundo a Polícia Federal, pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para exportar junto com a credibilidade do Brasil. E usa o tempo para criar constrangimento ao Exército, desafiando as regras disciplinares para ter o seu "gordinho", como chamou o general da ativa Pazuello, em seu comício.
Se somos um país que se expõe ao mundo, demonstrando que a incompetência e a irresponsabilidade têm vocação transversal no governo, amparo e carreira asseguradas, a CPI tem a oportunidade de mostrar o contrário.
Além da forma, o conteúdo, os fatos, com ou sem o capitão por testemunha.
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