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Olga Curado

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Queiroga mostra a cara de um fraco; tem garantido o cargo no governo

08.jun.2021 - Ministro da Saúde Marcelo Queiroga durante depoimento na CPI da Covid, em Brasília - Adriano Machado/Reuters
08.jun.2021 - Ministro da Saúde Marcelo Queiroga durante depoimento na CPI da Covid, em Brasília Imagem: Adriano Machado/Reuters

Colunista do UOL

08/06/2021 15h03Atualizada em 08/06/2021 15h09

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O que leva alguém a fazer alguma coisa em que não acredita e a servir a quem desdiz o que essa pessoa defende?

A resposta oferece alternativas. A primeira é estar sendo coagido a fazer e não ter condições reagir - por qualquer tipo de constrangimento: físico, moral ou material.

A segunda hipótese é: obtenção de algum prêmio que valha mais do que as próprias convicções.

O ministro da Saúde, melhor dizendo, o meio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tergiversa sobre o seu papel, a sua responsabilidade e não convence em consistência, coerência e congruência, quando fala, mais uma vez, à CPI da Pandemia.

Todavia, a expectativa de posicionamentos e informações claras, concretas e corajosas, que seriam oferecidas pelo Queiroga, esbarra na estratégia assumida pelo representante do capitão reformado, que tem como foco único proteger a chefia de ser nomeado como líder da tragédia nacional, que beira, agora, quase meio milhão de óbitos e outros tantos milhares de sequelados pelo coronavírus.

É a face da pusilanimidade. Um ministro que pretende ter a autoridade médica e não ler a bula de vacina antes de emitir nota técnica recomendando vacinação de gestantes, que não poderiam receber o imunizante, contrariando o próprio fabricante. E ainda se esquiva de dar nome aos bois, digo, a autoria de documentos que orientam condutas oficiais do próprio Ministério da Saúde.

Fala e desdiz a si mesmo. Com a mesma cara. Explica e as explicações não se confirmam. Nomeia sem poder e sem poder desnomeia. Refiro-me ao convite feito a uma médica, Luana Araújo, para ocupar função no seu governo, que não foi sacramentada. Como um sabujo, assume mudança de opinião ao desistir da nomeação da médica. Quando não é um fato. O veto, que é a demonstração de que o cargo de ministro da Saúde é de uma marionete, veio de cima, e para cima dele: da chefia. Assim segue a gestão. Na flacidez de quem só cumpre ordens. A História registra os efeitos das decisões daqueles que não se importam.

A comunicação exige, em nome da credibilidade do que é dito, que corresponda com ações. A fala é um dos elementos, mas não contém todo o conteúdo das mensagens. Há, sim, elementos não verbais, que são os alicerces de um comportamento que oscila entre a tibieza - que alguns poderiam classificar como covardia moral - e uma coragem endoidecida, própria do negacionismo.

O atual maestro de um ministério cuja importância é quase nula - ele é, na realidade, porta-voz conveniente, porque tem diploma e jaleco - faz de conta que conduz uma política de saúde. Na verdade, o país está à mercê de decisões tomadas nas sombras do poder, estimuladas por falas histriônicas de grupos entusiasmados com charlatanices. É a força do não verbal imposta aos fatos. E tem gente que se curva à gritaria.

O que se vê com o Queiroga na CPI é da mesma estirpe daquilo que se pode encontrar no comportamento vexatório, para a corporação, da PGR (Procuradoria Geral da República), quando quer arquivamento de investigação, na contramão da Polícia Federal, que pede mais buscas para esclarecer mando, financiamentos e autorias de atos antidemocráticos praticados em manifestações e ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Sentou-se a PGR, durante cinco meses, sobre um inquérito, com medo da verdade. E quer que seja ele esquecido.

A quem interessa a mentira? A quem interessa a não apuração de fatos que pedem o fim de instituições democráticas? A quem interessa que não se saiba como o governo federal escolhe que a população não tenha vacinas para lutar contra a expansão e mortalidade da Covid-19? A quem interessa que uma penca de jogos de futebol, de repente, ocupe o noticiário, escancarando as portas de estádios brasileiros, quando outros países não se submeteram à lógica financeira de empresas que lucram com campeonatos artificiais?

Queiroga, diante do Senado e da opinião pública, não tem dúvidas. Tem as respostas e não as oferece. O que ganha o Queiroga, o que impede o Queiroga de honrar a verdade?

Coação ou troféu?