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Olga Curado

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Lula faz Bolsonaro comer poeira e o capitão vai andando tonto pelo país

Jair Bolsonaro puxa máscara de criança em visita ao RN - Reprodução/Twitter/@linobocchini
Jair Bolsonaro puxa máscara de criança em visita ao RN Imagem: Reprodução/Twitter/@linobocchini

Colunista do UOL

25/06/2021 14h32Atualizada em 25/06/2021 14h32

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Sim, os nervos estão à flor da pele.

Tem números publicados hoje pela imprensa que estão dando nos nervos do capitão. Lula à frente na disputa de 2022. Bem à frente. O capitão tenta não engolir muita poeira. Mas tem limites cognitivos e de criatividade no desespero de mudar os fatos.

O capitão reformado cria factoides, usa com insistência a autoridade do cargo para, de maneira irresponsável, levar o risco e propagar o vírus da Covid-19.

O capitão é dominado pela ignorância e pela ignomínia. Repete os gestos da desfaçatez ainda na estratégia da cortina da fumaça, em que tenta deslocar o debate público, das denúncias de corrupção para as máscaras. Em um dia, dá ordens a uma criança para tirar a máscara que usa ao subir ao palco, no Rio Grande do Norte.

No dia seguinte, já no interior de São Paulo, na cidade de Sorocaba, segue na mesma direção. Provoca aglomeração, anda feito um desvariado, dependurado em carro junto com filho Zero qualquer coisa, Eduardo, pelas ruas da cidade, com o pretexto de inaugurar um Centro de Tecnologia. E novamente dá gritos contra a imprensa e ataca jornalista, mais uma vez, descompensado.

Está botando a campanha pela reeleição nas ruas. Aliás, uma constatação do vice-procurador eleitoral Renato Brill, que entrou com uma representação contra o capitão, por participar de ato de campanha no Pará, em cerimônia de distribuição de títulos de terra, e uma semana depois pediu para ir para casa. Os motivos alegados foram de ordem pessoal.

Ficam dúvidas.

A inacreditável, do ponto de vista da comunicação institucional, aparição do secretário Onix Lorenzoni, que usa o discurso da ameaça contra denunciantes de procedimentos obscuros na compra da vacina Covaxin. Esbravejou que um documento estaria falsificado, na sustentação da denúncia, mas esqueceu de olhar no site do Ministério da Saúde, onde o documento está publicado. Inépcia. E não só.

O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz, e o vice-presidente, senador Randolfe Rodrigues, logo após a inacreditável - repetindo - aparição vassala de Onix, identificaram no comportamento dele um estilo miliciano, em que a intimidação e a ameaça são a resposta às denúncias.

A médica Ludhmila Hajjar, convidada para ocupar o Ministério da Saúde, demonstrou à CPI as ameaças que vinha sofrendo depois de aparecer em público, esclarecendo a falta de convergência - no caso dela, adesão à ciência - ao negacionismo do capitão, para não aceitar o convite, o que sustentou a decisão dos senadores de não voltar a expô-la num depoimento à CPI.

O capitão reformado está em campanha e vai usar todos os recursos para se manter no posto.

E tem um manual que preconiza formatar todo o discurso segundo o método:

1. Desacreditar ciência e instituições democráticas;

2. Campanha contra o voto eletrônico;

3. Intimidação e ameaça contra todos os que falarem contra o capitão;

4. Estímulo à polarização nas redes sociais, com disseminação de fatos não comprovados;

5. Uso de Deus como patrocinador da missão "bolsonarista";

6. Uso da família tradicional como vítima da degradação pelos "esquerdopatas";

7. Ataques à imprensa "canalha e mentirosa" sempre que as notícias mostrarem o que quer esconder;

8. Mudanças dos fatos: "nunca falei em gripezinha", o Brasil é sucesso na vacinação...

Ah, sim, demitir o Salles. Tentar pacote de bondades. Manda o Guedes ir ao Congresso levar medida que reduz cobrança de Imposto de Renda. Vai tentar requentar o Bolsa Família, programa do governo do PT rejeitado solenemente na campanha eleitoral.

A CPI da Pandemia foi instalada para achar o caminho da inépcia que apresentou ao mundo um capitão reformado com imputação de genocídio e obscura ignorância e negacionismo, no enfretamento do que se tornou a maior tragédia da história do país. Está mostrando que o governo do capitão pode ter outras habilidades.

Para repisar, o adágio que é lugar comum - "uma CPI a gente sabe como começa, mas não sabe como acaba" - vai se confirmando. Na pista da incompetência investigada, aparecem milhões de reais e notas de cobrança de compra de vacina contratada em tempo recorde e sem passar pela tramitação regular de outras aquisições semelhantes.

Corrupção, ignorância, desfaçatez, inépcia, incompetência e nervos à flor da pele. Comendo poeira.