Topo

Olga Curado

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

"Mosca azul" pica Pacheco, diante da derrota contratada de Bolsonaro

Senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado - Marcos Oliveira/Agência Senado
Senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado Imagem: Marcos Oliveira/Agência Senado

Colunista do UOL

12/07/2021 16h00Atualizada em 12/07/2021 19h37

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O sonho do Pacheco é o pragmatismo de Kassab, que quer ser vice em 2022.

A simpatia quase amor do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, quando os açodados comandantes das Forças Armadas se manifestaram contra o senador Omar Aziz, pela citação de que alguns militares estariam maculando a imagem das corporações, tinha uma razão de ser.

Diferente da tripulação de Ulisses, nos versos eternos da Odisseia de Homero, o senador mineiro, estreante no cenário nacional, não tapou ouvidos para que não se deixasse enfeitiçar pelo canto das sereias. O ex-prefeito de São Paulo e ministro de qualquer um, Gilberto Kassab, viu isso. E como quer ser vice em 2022, de qualquer um - de Lula a Alckmin - de quem se viabilizar com chances para que ele ocupe o Palácio do Jaburu, ofereceu o Pacheco na bandeja. E parece que o Pacheco está acreditando, dado o empolado da fala, que significa querer ficar em cima de muro - de qualquer muro - para poder acenar de um lado e de outro - a militares felizes, civis indolentes e a todos os que acham que democracia é negociável, em nome de uma "via de centro".

Mas o sonho delirante de Pacheco se baseia numa leitura de pesquisa que apontaria um espaço "de centro" a ser preenchido, nas aspirações de brasileiros e brasileiras que não querem a "polarização" entre Lula e Bolsonaro. Aí está o engano. Não há essa solução de "centro" no sonho de consumo dos pesquisados. A verdade é cristalina: o capitão está derretendo. E justamente por isso esbraveja e tem diarreia.

O que temos, e as estapafúrdias manifestações do capitão mostram com clareza, é o seu desejo de ditadura, criando o "seu exército", não feito de militares, mas de militantes. Bem à moda do ídolo dele, o tal Trump, que será lembrado pela história dos Estados Unidos como detrator dos princípios que criaram para aquele país o slogan de "maior democracia" do mundo. Tentou desmontar a democracia também com o "seu exército" de sectários despudorados invadindo o Capitólio, no dia 6 de janeiro de 2021, com o texto da fraude improvável e improvada da derrota eleitoral.

O capitão reformado vai no esforço continuado e contínuo de queimar pontes, tentando também com a sua lábia de poucos recursos vocabulares, mas de muita insistência, criar a ideia de um golpe em que os militares estariam a salvo de tudo e de todos. Mas, aparentemente, nem todos os quarteis, em especial o oficialato mais jovem, que faz a leitura da História recente do país sem a paixão pela autojustificativa, se empolgariam.

Agora falta Lira, o presidente da Câmara, se dar conta de que não tem tantas vagas assim para o Centrão, caso se confirmem os disse-me-disse por aí, segundo os quais outros personagens, além do líder de Bolsonaro na Câmara, deputado Ricardo Barros, foram citados pelo capitão, na conversa com os irmãos Miranda, em 20 de março, no Palácio da Alvorada. Não se sabe ainda pela boca do capitão, silencioso desde que o deputado Miranda cobra, publicamente, que seja desmentido por ele. E a CPI da Pandemia também não ouviu nenhum solfejo do capitão que desmentisse o Miranda, quando contou no Senado ter apresentado indicações de corrupção no Ministério da Saúde, na compra de vacinas, que nunca chegaram.

Como a bandeira da luta contra a corrupção, slogan de todos os discursos do capitão, cai por terra, a reeleição fica distante. Anima-se o Gilberto Kassab e incensa o plácido-cândido-deslumbrado Rodrigo Pacheco, que acha que agora vai.

Sonhar e delirar não é um problema. O problema é colocar o delírio acima das obrigações constitucionais de defender a democracia. E fortalecer o Congresso Nacional, sem arregar para uns e outros, é a obrigação do doutor Pacheco, picado pela "mosca azul", enquanto um capitão reformado sonha em ser Napoleão.