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Olga Curado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro xinga e ameaça a democracia, em reação às pesquisas para 2022

28.mai.2020 - O presidente Jair Bolsonaro fala com simpatizantes e imprensa em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília - EDU ANDRADE/FATOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
28.mai.2020 - O presidente Jair Bolsonaro fala com simpatizantes e imprensa em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília Imagem: EDU ANDRADE/FATOPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

30/08/2021 13h25Atualizada em 30/08/2021 21h14

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O capitão vai se consolidando como carta fora do baralho. Nas mais recentes pesquisas para as eleições em 2022, o cenário é desolação para ele. Segue perdendo consistentemente apoio da população. No último levantamento da XP, divulgado em 17 de agosto, Lula venceria o capitão, em um eventual segundo turno, por 51% a 32%

No dia 25 de agosto, outra pesquisa, do Banco Modalmais, também aponta vitória de Lula sobre o capitão, num eventual segundo turno, por 46,9% a 38,8%.

O declínio de aceitação deixa de ser uma tendência e se torna um fato, na medida em que também as pessoas começam a se sentir mais mobilizadas em relação à disputa do ano que vem, e em que aumenta o número de interessados no assunto. A vigilância da sociedade está aumentando o desgaste do capitão.

Não vêm de graça as ameaças e impropérios contra a democracia que ele desfere cada vez que encontra um microfone. Diz que as três possiblidades para ele são: ser morto, ser preso ou a vitória nas eleições. Um delírio. A fala da arrogância paranoica que não quer ceder aos fatos. Aumentar a gritaria que antecipa a defenestração do cargo não será uma surpresa para ninguém. O seu repertório de blasfêmias contra o estado democrático de direito aumentará de tom para acordar a sua tropa miliciana e estimular o assalto à democracia. É o único recurso que possui.

Se havia um sentimento de que as coisas poderiam melhorar sob a batuta do capitão reformado, os números obtidos pela XP também desmentem esta confiança. Cresce o número de pessoas que desacreditam no governo. E olha que os blecautes nem começaram.

O negacionismo e o "negocionismo" na compra de vacina, enquanto não se acreditava na existência de uma pandemia que já matou 580 mil pessoas, são a expressão da loquacidade dos desesperados e ignorantes, para quem os fatos não importam. O país está mostrando que dará o troco a um governo que desmente a racionalidade e enjeita informações - desmerecendo a ciência, como os inquisidores que obrigaram Galileu a desmentir que a Terra era redonda.

A expectativa é mesmo de que as coisas não melhorem. Ninguém parece acreditar que existe capacidade para solucionar os problemas do país - do desemprego à inflação; da educação insuficiente à crise energética; do controle das contas públicas à preservação do meio ambiente.

Não é à toa que Fiesp e Febraban anunciaram que irão publicar um manifesto para pedir respeito institucional, fazendo coro com aqueles que reconhecem na democracia um pressuposto para o desenvolvimento, condição inegociável para o país. Caixa Econômica e Banco do Brasil não querem subscrever o documento de apelo às regras democráticas. Ficarão falando sozinhos, na contramão da História, e os seus atuais dirigentes serão exemplos de vergonha alheia.

A tentativa de colocar a opinião pública contra governadores e prefeitos também não está dando resultado, como era o sonho do capitão. Aqueles crescem em aprovação. Também não vem adiantando discurso de que o capitão é "perseguido" pela mídia. A imprensa ganha mais aceitação; mas o Congresso precisa ainda ganhar mais confiança. Os políticos naufragam na desconfiança.

Um alerta para o presidente do Senado, que pomposamente exerce o cargo com medo das palavras e de tomar decisões. Opta por fazer consórcio nas suas decisões, fugindo das responsabilidades do cargo - uma hora é o STF definindo a instalação da CPI; outra hora é a Advocacia do Senado oferecendo os argumentos para que ele "concorde" em não aceitar pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF. Ninguém haverá de dizer que se trata de um sujeito corajoso...

E ainda tem o Lira, com a gaveta cheia de pedidos de impeachment contra o capitão e uma magoazinha, porque a promessa de que este acabaria com o discurso contra o voto eletrônico não está sendo cumprida. Anuncia, como se fosse um alerta, que mantém o dedo no botão amarelo - seja lá para parar que trânsito - quando a sociedade está apertando o botão vermelho do basta de provocações, chega de impropérios, de omissão, inépcia e de absoluta falta de noção do que é governar.

E segue o legado do capitão: percepção de aumento da corrupção e da violência. E mesmo com a ajudinha do auxílio emergencial, está lá: o capitão perde para qualquer um que concorra com ele em 2022.

Não é à toa que a estridência antidemocrática continua. Mas o capitão está mesmo é comendo poeira. Não tem, para ele, nem choro nem vela.

Nota: Mais cedo, a coluna citou a "nova rodada da pesquisa da XP", sem mencionar a data. A informação foi corrigida.