Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Bolsonaro ficou refém do Zé Trovão; feitiço agora manda no feiticeiro
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O capitão está refém do Zé do Trovão, o tal sujeito que está escondido da Justiça, com uma ordem de prisão decretada e que, de longe, de outro país na América Latina, esbraveja para provocar balbúrdia, gritando para caminhoneiros que viajam com diárias e sanduíches pagos por falsos empresários do agronegócio, promovendo o caos nas estradas.
O capitão teve que sussurrar nas suas redes sociais para que o pessoal liberasse as estradas, onde bloquearam o tráfego de cargas em vários pontos do país, vociferando palavras de ódio contra a democracia. Falou manso, acuado, num tom de voz que remete a uma obrigação imposta a alguém que, se nada fizesse, poderia ser responsabilizado por omissão. Isso tem consequências, não só retóricas.
Há leis no meio do caminho, no meio do caminho tem lei, ainda que o capitão tente fazer de conta que nada o impede de se insurgir contra as instituições, carregado nos braços dos seus acólitos. Mas nem todos são cegos à realidade. Verdade que o capitão tem dificuldade de escuta - seletivamente escolhe o que ouvir - e também não tem repertório para raciocínios complexos. Entre esses, o entendimento do que é o trabalho de um presidente da República.
Foi audível, nos sussurros e suspiros camuflados na fala do capitão aos caminhoneiros, o medo e um início de aprendizado. O medo é da cadeia, o aprendizado é que não pode tanto quanto acha que pode. Embora seja muito sofisticado compreender a aula de Direito, como quis dar o Augusto Aras, no dia depois do 7 de setembro, lembrando o "espírito das leis", há de ter descoberto que a Constituição não pode ser interpretada a seu bel-prazer.
Quem acompanha o processo de mobilização dos caminhoneiros com informações qualificadas sabe que o movimento foi estimulado pelo capitão. O recado chegou ao Zé do Trovão, que pôs a cara. Queria, de verdade, a suspensão do pedido de prisão. Deu com os burros n'água. Mas tinha um advogado de defesa determinado. Não funcionou.
O capitão talvez tenha também tido uma pista de que não está gerenciando um botequim. Com todo respeito a todos os botequins. O encolhimento dos negócios da economia, registrado com o despencar da Bolsa e com a valorização do dólar sobre o real, realizando perdas bilionárias no mundo real, se parou para olhar o prejuízo da sua retórica golpista.
Depois de livrar as estradas, é preciso agora tirar falsos manifestantes estacionados na Esplanada dos Ministérios. Caminhões que podem romper barreiras físicas não devem se tornar símbolos de ameaça latentes de irrompimento de barreiras institucionais. Se o presidente do Senado cancelou as sessões da Casa, porque teria sido informado, como publicado, de que alguns daqueles acampados na Praça dos Três Poderes poderiam invadir o prédio, é inaceitável que façam daquele espaço uma trincheira.
Manifestantes, sustentados com sanduíches e diárias de financiadores transvestidos de empresários do agronegócio para acampar na Esplanada dos Ministérios, devem ser informados que o local também não é camping.
E, como a um dia se segue o outro, continua a saga do TSE. Mais um discurso de Luís Roberto Barroso. Repete, reitera a lisura audibilidade, transparência, segurança e eficácia do sistema eletrônico de votação do país. Fala da vergonha a que o país se expõe.
Cantilena necessária como a gota d'água que rompe a rocha. Pela insistência, perseverança, regularidade. Vencer a ignorância pelo cansaço da repetição, porque não será pela adesão a ideais de solidariedade, do verdadeiro patriotismo, da responsabilidade, que haverá a conversão dos insanos. Talvez isso só seja possível por uma ordem de prisão que não se revoga, porque o crime é continuado.
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