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Olga Curado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Queiroga segue Bolsonaro, "pazuella" e nega ciência; o país chora os mortos

Colunista do UOL

08/10/2021 17h11Atualizada em 08/10/2021 20h06

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São mais de 600 mil mortos.

Quando o Brasil alcança a marca histórica da tragédia, com mais de 600 mil mortos pela Covid-19, o ministro da Saúde esbraveja contra a ciência. Como se não bastasse, no dia em que o Brasil chora, o tal Queiroga faz a advocacia da imprudência, da morte. Declara a "desnecessidade" do uso obrigatório de máscara facial como barreira para conter a disseminação do coronavírus. Fala com a convicção e eloquência dos tolos, sem qualquer respaldo científico.

O capitão já exigiu dele que acabasse com o uso de máscaras, na contramão das recomendações científicas, que preconizam a necessidade das barreiras, no convívio das pessoas em locais fechados, e quando os parâmetros que indicam a contenção da pandemia ainda não tenham sido alcançados, como é o caso de muitas localidades brasileiras. As recomendações, feitas de maneira inapropriada, mostram que também fora dos hospitais e dos consultórios há má prática médica.

O tal Queiroga, que ensaboou a conversa na sua chegada ao posto, usando o título de médico para ganhar a boa vontade da população, nada mais é que um vassalo, um "pazuellador", que apenas obedece. Terá o troféu de honra da sabujice sem vergonha. Demonstrou capacidade, não imaginada, de mimetizar a chefia. Usa o poder do cargo para seguir, indiferente às suas responsabilidades, para enfraquecer a credibilidade da própria autoridade sanitária. São agora mais de 600 mil mortos. São milhões de sequelados.

São milhões de sequelados que terão, ao longo da vida, um calvário de lutas para recuperar os danos provocados pela Covid-19. São: insuficiência cardíaca, pulmonar, respiratória, neurológica e outras ainda desconhecidas.

O risco é de todos nós. Mas o risco maior é daqueles que encontram nas falas de autoridades públicas o argumento decisivo nas suas tomadas de decisão. O tal Queiroga já quis negar a importância da vacina para jovens e adolescentes. Reverbera o negacionismo, usando jaleco de médico, o que por si só avilta o juramento hipocrático, e também quando mostra a sua alma na ponta do dedo médio apontado aos que o criticam.

O Queiroga não explica a omissão do Estado para impedir o escândalo da Prevent Senior, operadora porta-voz da defesa do uso do kit Covid, de mãos dadas com o governo federal, e valendo-se de estudos não autorizados pela CONEP (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa), para validar a pertinência do tratamento precoce, que, agora se vê, maquiavam informações sobre o número de mortos pela Covid-19.

É necessária a investigação, pelo Ministério Público Federal, do CFM (Conselho Federal de Medicina), a partir da representação com mais de 60 mil assinaturas, liderada pelo cardiologista e docente da USP (Universidade de São Paulo) Bruno Caramelli, realizada no início de março.

Vem da omissão do CFM, diante das recomendações de uso de remédios que não tratam a Covid, distribuídos com estímulo propagandístico do capitão. Foi com o nome do CFM na frente que o capitão justificou, ao palco internacional das Nações Unidas, o que se chamou de "autonomia médica" na receita do kit Covid, com as drogas ineficazes. Mas, como reconhece o doutor Caramelli, em entrevista à imprensa, "autonomia para prescrever não autoriza o erro médico". O presidente do CFM, Mauro Luiz de Brito Ribeiro, passou à condição de investigado pela CPI da Pandemia, na última semana.

A CPI da Pandemia termina na próxima semana. Nos seus cinco meses de trabalho expôs ao país os desmandos, a incompetência, a inércia, a inépcia, a desumanidade do governo do capitão. São agora mais de 600 mil mortos. Oficiais. O número da tragédia que resultou da negação da ciência e do desrespeito à vida.

São também milhões de famintos no Brasil, que o capitão desconstrói com voracidade. São lares cozinhando ossos enjeitados pelos bichos. É o país de gasolina com preços descontrolados, com inflação crescente, falta de água e de luz anunciadas, desemprego. É o país do ministro da Economia com milhões de dólares guardados em offshore, para fugir de impostos que os brasileiros pagam, mas que nada ganham quando sobe o dólar. Ganha quem tem dinheiro em paraíso fiscal, onde o Guedes tem conta.

São mais de 600 mil mortos.