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Olga Curado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

2022: Tratoraço de Lira, pressão no STF e conversa fiada de Bolsonaro

Arthur Lira e Jair Bolsonaro - Paulo Jacob/Agência O Globo
Arthur Lira e Jair Bolsonaro Imagem: Paulo Jacob/Agência O Globo

Colunista do UOL

09/11/2021 12h30Atualizada em 09/11/2021 16h33

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Não será surpresa se o STF (Supremo Tribunal Federal) alterar, ele próprio, ritos seus para dar recados ao Congresso Nacional sobre a importância da transparência em votações como a da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) da reeleição, a dos Precatórios.

A tentativa de tratorar o STF, assistida ontem na marcha insensata de Lira, cruzando a Praça dos Três Poderes, numa imitação canhestra do capitão, não pegou bem. Não é assim que se faz.

Orçamentos secretos, ocultos nas artimanhas de Lira e os seus, poderão vir a receber um puxão de orelhas público pela Corte. Esperar e constatar.

Pelos usos e costumes daquela cultura "política", a prática de intimidação não é a menos visível delas. Assistiu-se à cena de constrangimento imposta pelo presidente da Câmara ao STF, quando marchou com o seu séquito vassalo à Praça dos Três Poderes, para questionar o presidente do STF quanto à decisão da ministra Rosa Weber sobre os procedimentos da Câmara no gasto circunstancial de dinheiro público - às vésperas da votação da PEC da reeleição - com garantia de muito dinheiro para suas excelências, em emendas de relator. Aquele dinheiro que vai para o deputado e para a deputada gastar sem dar satisfação, na casa dos milhões, e que serve para amaciar prefeitos resistentes e eleitores indecisos.

Enquanto isso, na outra ponta da estratégia para as eleições de 2022...

O capitão usa uma súbita compaixão pelos miseráveis do país para fazer uma cortina de fumaça para a compra descarada de votos de suas excelências, que olham mesmo é para si mesmos. Foram dele palavras reiteradas de críticas aos programas sociais - em especial ao Bolsa Família, que agora rebatiza para manter a doce esperança de que um país de miseráveis enxergue nele a benevolência e a capacidade de botar comida na mesa. Viu a popularidade aumentar quando havia o auxílio emergencial de R$ 600. Que os R$ 400 lhe rendam um segundo turno em 2022.

O capitão não se incomoda em mudar de palavra; o discurso é apenas uma contingência. Muda-se hoje para o seu décimo partido político. Não é a fidelidade às ideias que o faz peregrinar pelas siglas, mas a pragmática avaliação de que estará entre aqueles que poderão lhe garantir mandatos e imunidades.

O acordão entre o Palácio de Planalto e o histórico Centrão - cuja sobrevivência é a habilidade reconhecida em ser poder, qualquer que seja o inquino da vez na Presidência da República - se sustenta na miséria brasileira para ganhar seus milhões de reais. Tem nome a desfaçatez. A PEC da reeleição, cujo propósito, nas falas contorcionistas do presidente da Câmara e do capitão, é a ajuda aos pobres sobreviventes da incúria deles mesmos, na gestão da pandemia.

Lira vai hoje para o tudo ou nada, tentando demonstrar a sua capacidade de aliciar votos para a causa, que é a sua própria sobrevivência como mandatário do país, em que o capitão, eleito, é hoje um fantoche do presidente da Câmara, na expectativa de que as promessas de votos feitas a ele se materializem.

O capitão sabe que no Senado "terá problemas". Vai tentar, mais tarde; agora, por enquanto, a agonia é a votação em segundo turno da PEC da reeleição. Cada dia com sua agonia.

Por enquanto, a hora é de Lira. Ele se prepara para o espetáculo. Enche o peito, arruma a gravata, fixa o olho no horizonte - o dele é mais alto do que o da maioria das pessoas - e, num aprumado artificial de quem está, na realidade, atropelando, vai engolindo o choro (preso na garganta, diante do risco real de que a opinião pública não está acreditando no que vê) e segue na sua desabalada trajetória de intimidações e toma-lá-dá-cá.

O roteiro do espetáculo está pronto. E os atores, a postos.