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Olga Curado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O enigma para Lula e Bolsonaro: quem nasceu primeiro, o ovo ou galinha?

Lula e Bolsonaro -  Marlene Bergamo - 26.abr.2019/Folhapress e Adriano Machado - 10.mai.2021 /Reuters
Lula e Bolsonaro Imagem: Marlene Bergamo - 26.abr.2019/Folhapress e Adriano Machado - 10.mai.2021 /Reuters

Colunista do UOL

07/04/2022 14h44Atualizada em 07/04/2022 14h44

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O debate nas ruas da política: o que vem primeiro, se o ovo ou a galinha, ou se o biscoito é mais fresquinho porque é mais gostoso ou é mais gostoso porque é mais fresquinho.

As teses sobre as quais se debruçam analistas, especialistas do cenário eleitoral, trazem o dilema de fato: candidatos da base governista são cabos eleitorais que asseguram desempenho dos candidatos à Presidência da República, ou são candidatos à Presidência da República que potencializam votos para os candidatos ao parlamento?

Parece haver uma simbiose no raciocínio entre os vários entendimentos anunciados por analistas, segundo o qual a existência de palanques locais e regionais são a grande alavanca para o sucesso de um ou outro candidato presidencial. As longas horas de análises, ao final da janela partidária, de exaustiva e detalhada especulação sobre o poder do voto local, na cidade - onde mora o eleitor - válido para eleições municipais, e que seria reproduzido na eleição presidencial.

Tenho dúvidas.

E, quando se tem dúvidas, acacianamente, não se tem certeza.

É o Lula que elege o deputado ou é o deputado que elege o Lula?

É o deputado que elege o ex-capitão ou é a sua patente que arrasta o voto?

Nas últimas eleições presidenciais de 2018, as hordas locais forram arrastadas por um "fenômeno": pelas fake news, pela campanha heroica de um deslumbrado juiz na saga contra a corrupção identificada por ele em um partido - o PT - e, sim, houve a ausência explícita de um candidato nos debates. Escondido no manto de mártir "contra tudo o que está aí", levou multidões às urnas.

Há circunstância em que o tsunami se forma e arrasta o desejo e a fantasia do eleitor.

Está fora da minha alçada discutir com cientistas políticos. Apenas observo a cena com o viés de jornalista presa a olhar a circunstância e a conjecturar sobre o seu impacto nos resultados, até de maneira apressada, mas sempre apoiada nos fatos.

E ficam dúvidas em relação aos fatos que chegarão ao eleitor. Se serão eles mais poderosos que os milhões de reais das emendas do orçamento secreto, graciosamente distribuídos longe das vistas dos órgãos de controle dos gastos do dinheiro público.

Será que o Valdemar da Costa Neto, com o seu histórico parlamentar e de cartola de partido, junto com o seu quinhão de emendas parlamentares e deputados de última hora, vai arrebanhar os votos necessários para que se mantenha onde está, gostosamente ao lado do ex-capitão, instalado no Palácio do Planalto?

Ou, por outra, será que as hostes petistas, inflamadas com o discurso do ex-presidente, ocuparão o imaginário popular e o desejo de repetir o que desfrutaram nos governos petistas, de comida na mesa, vagas nas universidades e direito a viajar de avião, e devolverão ao Lula a cadeira no Planalto e a cama no Alvorada?

O troca-troca partidário de suas excelências, num momento em que sonhos, desejos e especulações são nada mais nada menos que insumos para a construção de argumentos para teses que aqueçam corações de olho na vitória eleitoral. O que temos, por enquanto, são as conversas de pé de ouvido e as negociações distantes do eleitor. Esse sim, alheio, está rouco de gritar por comida, emprego, saúde, segurança, respeito, empatia.

As falas retóricas, candentes e oportunistas do discurso pré-eleitoral escondem o que a campanha terá a obrigação de revelar. Quem é quem. E isso diante do obstáculo das fake news, da desinformação deliberada, da ignorância conveniente e das verdades manipuladas por dos agentes políticos desonestos e omissos. Isso é o que será importante ver. Além do lusco-fusco das intepretações do ambiente político, onde personagens testam estratégias eleitorais por meio das mídias.

A tinta gasta com o debate entre o ovo e galinha sem dúvida é fonte de ocupação para a imprensa, para cientistas, que se incumbem com a responsabilidade de interpretar e especular sobre o tempo da política. E que cada qual se distraia com o que lhe interessa.

Do meu lado, fico tentando decifrar um enigma maior: como é possível alguém ainda enxergar a possibilidade, ainda que longínqua, de reconduzir à Presidência o ex-capitão.

Um mistério maior do que descobrir o que veio primeiro, o ovo ou a galinha. Fica, porém, uma certeza: sem democracia não haverá omelete.