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Otávio Rêgo Barros

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O vencedor precisa ser fortalecido e o perdedor convencido da derrota

 Eleições de 2022: 156 milhões de pessoas estão aptas a votar  -  O Antagonista
Eleições de 2022: 156 milhões de pessoas estão aptas a votar Imagem: O Antagonista

Colunista do UOL

16/07/2022 00h00

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Jovem oficial egresso da AMAN, servindo no Regimento de Cavalaria em Bayeux-PB, fui destacado para prover segurança nas eleições do ano de 1982.

Em uma missão de última hora, com logística carente para o deslocamento, levamos meia jornada para vencer 170 quilômetros que separavam o objetivo do ponto de partida.

Ao chegarmos na região de Parnamirim-RN, logo iniciamos o reconhecimento. Conversamos com o juiz eleitoral, com alguns candidatos, com parte da população alvoroçada e todos os presidentes de mesas.

O ambiente de operações tinha o ar pesado (um medo não relatado abertamente), quase irrespirável, que foi desanuviando-se com a presença das tropas.

Ordens recebidas e divulgadas, homens posicionados, patrulhas circulando:

- Não pode haver boca de urna;

- Ninguém pode estar armado;

- Não pode haver arruaça durante a votação; e

- Não pode haver qualquer tentativa de acesso ao local de guarda e apuração.

O tesouro a ser protegido eram os sacos de lona lacrados, identificados à caneta esferográfica, com um papel afixado com cola tenaz sobre a fresta.

Findo o processo de votação, assumimos a responsabilidade de transportar e guardar a vontade dos eleitores.

Nós quase dormíamos abraçados às urnas. Em eleições passadas, grupos políticos dominantes roubavam as bolsas, trocavam os votos e as repunham no lugar com a conivência dos agentes de segurança.

Satisfeitos com o desempenho, elogiados pela justiça eleitoral, sem incidente a reportar, nos pusemos em marcha de retorno ao aquartelamento.

Em 2000, como Tenente-Coronel, constatei que as coisas mudaram. A justiça eleitoral já empregava urnas eletrônicas, um sofisticado sistema que se tornou referência ao mundo civilizado.

O resultado de eleições no Brasil continental, com mais de 210 milhões de habitantes e atualmente 156 milhões de votantes, vivendo na selva, na caatinga, no pantanal, no cerrado, nos pampas, nas metrópoles e nas pequenas cidades, leva hoje poucas horas para sua divulgação.

Entretanto, notícias constantemente propaladas afirmam que o sistema pode ser ludibriado. Alegam seus difusores que um Petit Comité, atuando na surdina, seria o Grande Irmão (referência à obra 1984, de George Orwell), o decisor do destino do Brasil.

Elas vêm gerando fricção. Envolvem Poderes, Instituições, com impactos negativos na sociedade desgastada pelas desavenças.

Imersos em um mundo paralelo, seus propagadores fazem ouvidos de mercador às vozes técnicas que os contrariam.

Suas formulações se baseiam em provas sem sustentação factível. Parece-nos que a normalidade não pode ser rotina democrática a esses grupos.

É mister encerrar essas excursões psicodélicas. Centrar-se na busca de segurança institucional, da união de Poderes e de avanços que gerem melhoria de vida para a população.

Será possível acreditar que em um processo tão fiscalizado, tão testado, tão maduro, com a participação de tantas pessoas (que podem e pensam diferente politicamente), uma "fraude" dessa magnitude passaria incólume, não viria a público, ninguém quebraria o pacto de silêncio?

Mudar agora a metodologia de votação, contagem e declaração do eleito, como querem esses agentes, seria demonstração de submissão às pressões que vicejam na rasância do processo político atual.

Sabemos que a cada ronda eleitoral o sistema é aperfeiçoado e se torna mais seguro.

Ainda assim, como cidadão anseio ver sepultadas definitivamente essas aleivosias por meio de ações que impeçam contestações, as mínimas que possam surgir.

Estudiosos defendem a segregação de funções recomendada pela norma ISO 27001 de segurança da informação, aceita pelo Tribunal de Contas da União e por auditorias independentes.

Aumentaria a compliance e ratificaria a credibilidade de nossas eleições. Não me parece uma afronta à experiência acumulada pela justiça eleitoral.

Merecia avaliarmos no futuro a proposta de auditorias externas, isentas de ligações políticas com os contendores, sem açodamento e com clareza de propósito.

Que não seja mera bandeira eleitoral de uma facção, mas, primacialmente, um ato inconteste em defesa da liberdade intrínseca à democracia.

E, ao fim, ainda que nos canse, ratificar-se que o Tribunal Superior Eleitoral é legalmente a única instância responsável por todo o processo que envolve o direito e o dever do cidadão em eleger seu representante.

O vencedor, qualquer, sairia fortalecido e o perdedor, convencido da derrota.

Paz e Bem!