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Paulo Sampaio

Alexandre de Moraes é canalha, afirma ativista preso em ato contra ministro

Bronzeri na tenda onde está acampado com militantes pelo impeachment do governador Doria em São Paulo - Paulo Sampaio/UOL
Bronzeri na tenda onde está acampado com militantes pelo impeachment do governador Doria em São Paulo Imagem: Paulo Sampaio/UOL

Colunista do UOL

13/05/2020 07h00

A Justiça de São Paulo aceitou ontem a denúncia oferecida na segunda-feira pelo Ministério Público contra o engenheiro Antônio Carlos Bronzeri, 64 anos, detido na madrugada de domingo (10) quando comandava uma manifestação na porta do edifício onde mora o ministro Alexandre de Moraes, do STF, em Pinheiros, zona oeste da cidade. O processo corre na 22ª Vara Criminal de SP.

Aos gritos de "Desce aqui, pilantra! Desce, safado! Canalha!", Bronzeri e cerca de 10 correligionários bolsonaristas protestavam contra a suspensão da nomeação do delegado Alexandre Ramagem para a diretoria da Polícia Federal, determinada por Moraes na quarta-feira (29) sob a alegação de "abuso de poder e desvio de finalidade".

Ramagem é apontado como homem de confiança do presidente da República e seus filhos, e a decisão de Moraes se baseou principalmente na afirmação de Bolsonaro de que "por não possuir informações da Polícia Federal, precisaria 'todo dia ter um relatório do que aconteceu, em especial nas últimas vinte e quatro horas" — o que denotaria intenção de interferir no comando da corporação.

Após ser notificado da decisão do ministro, Bolsonaro tornou sem efeito a nomeação, e Moraes extinguiu a liminar que a suspendia. O novo diretor-geral da PF é Rolandro Alexandre de Souza, subordinado de Ramagem na Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Veja a seguir a conversa da coluna com o homem acusado de difamar o ministro do STF.

Prestes a sair em carreata pró Bolsonaro, contra João Dória - Paulo Sampaio/UOL - Paulo Sampaio/UOL
Prestes a sair em carreata pró Bolsonaro, contra João Dória
Imagem: Paulo Sampaio/UOL

STF desacreditado

Bronzeri defende que "o presidente da República tem direito de nomear quem ele quiser, e também a controlar a Polícia Federal". "Se eu sou chefe do executivo, vou colocar na direção da PF alguém da minha confiança!"

Para o engenheiro, "o STF está desacreditado, só tem advogado de bandido".

"Esse Alexandre de Moraes eu conheço bem! Quando o (ex-governador de SP Geraldo) Alckmin fez a cagada imperdoável de colocá-lo na secretaria da Segurança de São Paulo, ele era advogado do PCC (Primeiro Comando da Capital). Aí, naquela confusão do impeachment da (ex-presidente) Dilma, foi indicado para ser ministro da mais alta instância do Poder Judiciário por um réu da (operação) Lava Jato, Michel Temer, e sabatinado por um Senado em que, de 81 parlamentares, 43 eram cleptocratas. Pode colocar: bandidos. Temer faz parte da quadrilha do Renan Calheiros, do Romero Jucá, do Sarney, toda essa gente que vem roubando do Brasil há décadas!"

Desde sua indicação a uma cadeira do Supremo, o ministro Moraes nega ter tido qualquer ligação com a facção criminosa.

30 ameaças de morte

Em relação à prisão de domingo, o engenheiro se diz indignado com o que considerou "atos abusivos" do ministro do STF.

"Ele pensa que pode tudo? Que pode mandar prender quem está se manifestando? Eu apenas disse o que ele é: pilantra, safado, canalha, vigarista. Se não gostou, que entre com uma representação na Justiça. Eu não ameacei a vida dele, nem da família. Em compensação, de lá para cá eu já recebi mais de 30 ameaças de morte anônimas."

Bronzeri ficou preso no 14º distrito policial até a madrugada de segunda-feira. De acordo com ele, o ministro "tentou exigir que a delegada cobrasse R$ 10 mil de fiança". "Mas a doutora foi firme. Disse que quem mandava ali era ela, e jogou o valor lá pra baixo." Segundo o manifestante, seu grupo fez uma vaquinha para pagar.

Ministro apresentou representação criminal

A assessoria do STF informa que o ministro entrou com uma representação criminal no próprio inquérito policial.

Por sua vez, Bronzeri diz que entrou com duas contra o ministro: "As minhas não são no Ministério Público Estadual, são no Federal. Esse vagabundo tem de saber com quem está mexendo."

A primeira representação solicita "medida protetiva de garantia de vida por ameaça de morte, em função de ativismo político". "Solicitei inclusive um colete a prova de bala", conta Bronzeri.

A segunda requer "imediato afastamento do advogado Alexandre de Moraes da Suprema Corte Federal, por notória incompatibilidade com o cargo de juiz, que tem por dever de ocupação notório saber jurídico, vida egressa de boa conduta e reputação ilibada". "Ele não tem nenhuma dessas."

Entre as oito testemunhas arroladas, diz Bronzeri, estão os ex-deputados estaduais Afanásio Jazadji e Elias Jr; o ex-secretário estadual de Segurança Pública Antonio Ferreira Pinto e o senador Major Olímpio.

Tenda na praça

Bronzeri recebe o UOL em uma tenda azul armada na praça escoteiro Aldo Chioratto, vizinha à Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), na Vila Mariana, zona sul, onde ele se instalou com militantes que pedem o impeachment do governador João Doria Jr..

O grupo protesta contra o fechamento do comércio e dos serviços não essenciais em todo o estado, que o governador anunciou em março como medida de combate à pandemia de covid-19. "Esse vírus é uma fraude, não existe!", diz Bronzeri.

Em manifestação contra o isolamento social, na avenida Paulista - Nando Matheus - Nando Matheus
Em manifestação contra o isolamento social, na avenida Paulista
Imagem: Nando Matheus

O secretário estadual de Saúde, José Henrique Germann, informou ontem que o número de infectados pelo novo coronavírus em São Paulo chegou a 47.719, com 3.949 mortes. Bronzeri afirma que todos esses casos se devem a infecções por H1N1, vírus que causou uma pandemia em 2009. Na sexta-feira (8), o governador Doria anunciou a prorrogação da quarentena até 31 de maio.