Para criar imagem de "ativista ambiental", brasileiro cata lixo em Londres
Faz tempo que o brasileiro radicado em Londres Israel Cassol, 38 anos, dono da maior coleção de bolsas da grife Hermès do Reino Unido, quer provar que não é apenas um "fashionista frívolo". Ao todo, ele possui doze bolsas do modelo Birkin, um dos mais cobiçados da marca francesa. Gastou cerca de R$ 1 milhão para adquiri-las, e recentemente foi chamado de "Birkin Boy" em uma matéria de página inteira do tabloide inglês "Daily Mail".
"Não sou essa pessoa superficial que muita gente acha", desabafou Israel à coluna, em janeiro. "Quero que vejam que estou atento às mudanças climáticas do Planeta. Preciso chamar a atenção do mundo para a questão da sustentabilidade."
Choque no Tâmisa
Com 50 mil seguidores nas redes sociais, ele decidiu agregar ao personagem do "style influencer" (influenciador de estilo) o do "ativista ambiental". No começo da semana, posou para fotos coletando lixo na beira do rio Tâmisa, que corta Londres, e hoje (5) aproveitou o gancho do "Dia Internacional do Meio Ambiente" para postá-las.
"Há uma semana, eu estava correndo no parque e vi muita sujeira na beira do rio. Alguns dias depois, andando por ali com meu marido, Ruppert, resolvi descer para ver o que havia de dejetos. Tomei um choque", lembra. "Encontrei máscaras, luvas, garrafas plásticas. Recolhi tudo e coloquei onde deveria estar, no lixo."
Saia de canudos
Casado desde 2014 com um inglês 12 anos mais velho, "lindo, britânico, aristocrático", Cassol foi descoberto por uma relações-públicas que o viu em uma cafeteria no Chelsea, sudoeste de Londres. "Eu estava fazendo selfies com o meu cachorrinho e uma das minhas Birkin, quando, do nada, essa moça se aproximou, se apresentou e perguntou se eu queria ser influencer. Dois dias depois, recebi um telefonema da irmã dela, que se tornou minha agente."
A carreira de influenciador progrediu rapidamente, e logo ele estava frequentado tapetes vermelhos e desfiles de moda. Além das bolsas, tornou-se conhecido por chegar aos eventos quase sempre de saia. Por conta do lado ecológico, confeccionou ele próprio vários modelos sustentáveis. Um deles era feito de canudos de plástico que recolheu "pelos bares de Londres".
Arranhão na imagem
Em outra saia, desenhou uma pirâmide e colocou no topo personalidades ligadas à defesa do meio ambiente, como a rainha Elizabeth ("ela declarou que gostaria de plantar árvores no mundo todo"); a modelo Gisele Bundchen e o naturalista David Attenborough; na base da pirâmide, caricaturas de chefes de estado que se mostram preconceituosos e menosprezam a "questão climática":
"Coloquei o Bolsonaro com a cara do Hitler; o Putin com a bandeira gay e o Trump vestido de super-homem hahaha."
Não deu certo. Atacado nas redes sociais por bolsonaristas enfurecidos, ele teve de pedir desculpas para para apagar o arranhão na imagem. "Gravei um vídeo em que assumia que não tinha tido um comportamento apropriado e dizia de coração aberto que 'errar é humano'."
Programa da Xuxa
Gaúcho de Caxias do Sul, filho de um pedreiro e uma dona de casa, Israel Cassol cresceu assistindo ao programa da Xuxa, começou a faculdade de fisioterapia e embarcou para a Itália em 2000, com o sonho de ser modelo e ator. Ele diz quer fez de tudo para "chegar lá" (foi gogo-boy, ator pornô e trocou sexo por dinheiro), até que se realizou com a projeção alcançada no "insta".
"De repente, vi minhas bolsas no 'Birkin Club for Boys'! Sempre quis muito esse momento, mas sentia que não estava preparado. O Brasil começou a falar de mim. Hoje eu posso dizer que tenho uma história de vida linda, de sucesso".
Império do Estilo
Neste sábado, o lado fashion de Israel Cassol pede licença ao militante ecológico para uma importante colheita de frutos. Ele fará sua estreia como apresentador de TV, em um programa matutino chamado Empire Style. Vai ao ar às 9h30, na TV Band Triângulo, sediada em Uberaba, Minas Gerais.
"Eu vou falar de moda, comportamento, cultura, e as maiores curiosidades de Londres", explica. O tema do programa de estreia é "o boom de influencers em Notting Hill (bairro de Londres)", incluindo, claro, ele mesmo.
Vida real
Israel comemora o término gradual da quarentena em Londres, mas diz que foi importante para "meditar, cuidar das redes sociais e limpar a casa". "A gente sempre pagou alguém para fazer esse serviço, mas aprendi. Eu não queria mostrar luxo nos posts, fotos minhas em eventos, e sim a vida real de um influencer em lockdown", explica.
O mais importante, segundo ele, foi "refletir sobre o consumismo". Israel diz isso quando a coluna lembra que militantes contra o aquecimento global alertam para a emissão de gases de efeito estufa, entre eles o carbono, na confecção de objetos industrializados. "Decidi que este ano não vou comprar nenhuma bolsa!", afirma.
Viva o Insta!
O confinamento na quarentena só foi interrompido pelo ativismo ambiental à beira do Tâmisa. "Eu estava de saco cheio de gastar com roupas, gastar, gastar. Vi que não precisava daquilo. Que podia usar as que eu tenho durante dois, três anos, sem repetir. Pra que sacrificar o Planeta? Ele está suficientemente machucado, não?"
E assim nasce um ativista ambiental fashion.
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