Ocupada por militares e sem audiência, EBC vai de TV Lixo a joia rara
Desde a redemocratização em 1985, os nove presidentes que assumiram o cargo tinham projetos de remodelação da TV pública federal. Nenhum deles obteve sucesso na empreitada. Ao tomar posse, Jair Bolsonaro fizera a promessa mais simples: extinguir a EBC e a TV Brasil, dois braços dos mais custosos da gestão da mídia pública brasileira.
No primeiro mês no Palácio do Planalto, Bolsonaro se viu pressionado a não cumprir sua promessa de campanha. O tema desde então divide os frequentadores das alas palacianas. Aqueles vinculados de alguma maneira a Carlos Bolsonaro, o filho do presidente que é o palpitador oficial em comunicação, insistem na extinção da "TV Lixo". Os militares abraçaram a causa da EBC, definida agora como "joia rara" pelo ministro Jorge Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, pasta à qual a empresa está subordinada.
Pouca coisa mudou no marasmo da mídia pública federal. Os bolsonaristas ocuparam as vagas existentes com seus apaniguados _a EBC tem 77 pessoas em cargos comissionados de origem de indicação política. O governo segue gastando quase meio bilhão de reais por ano com a manutenção da EBC e seus mais de 2.000 servidores, valor já renovado para o orçamento do ano que vem. Para quê? O maior feito da gestão Bolsonaro na EBC foi a proibição do uso dos termos "golpe militar" e "ditadura" no noticiário oficial. O impacto continua sendo nenhum _muda nome, muda logo, muda slogan _ só não o muda o traço no relatório de audiência.
O modelo da mídia _ privada ou pública _ está em redesenho no mundo todo em razão das novas formas de consumo da audiência, da política predatória de anúncios de gigantes das redes sociais, das múltiplas possibilidades de acesso à informação.
Ocupada por militares, a EBC volta a ter como modelo a BBC, conforme um dos generais definiu. É conversa para inglês ver.
A emissora pública inglesa, um exemplo de sucesso mundial de gestão, financiamento e programação, também passa, entretanto, por maus bocados. Insatisfeito por cobertura jornalística que considera enviesada, o primeiro-ministro Boris Johnson quer rever a taxa que tem financiado a BBC por 60 anos. Anualmente a emissora arrecada mais de R$ 8 bilhões por meio dela. O premiê conservador acha que é dinheiro demais. Ele refuta a privatização da BBC, mas acha que o contribuinte deve desembolsar menos para financiar a TV pública. Até 2027, a BBC tem recursos garantidos por meio da taxa. Qualquer mudança tem de ser aprovada no parlamento, no qual Johnson conseguiu neste mês expressiva maioria.
Longe de absorver o modelo inglês _ por incapacidade democrática _ , o governo Bolsonaro caminha para ser o décimo a fracassar na redefinição de modelo da TV pública brasileira. Uma geringonça da administração, impossível de ser extinta, impossível de ser melhorada.
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