Faz sentido o otimismo mundial com a retomada do crescimento no Brasil?
A mídia, os bancos e as consultorias econômicas internacionais concluíram relatórios otimistas sobre a retomada do desenvolvimento brasileiro em 2020. Apostam que o PIB, a soma das riquezas nacionais produzidas, crescerá neste ano entre 2% e 2,6% _ mais que o dobro da performance de 2019. Acreditam que o Brasil é o país com melhores condições de puxar o crescimento econômico da América Latina.
Os oráculos econômicos citam que 2019 foi um ano sombrio no continente, com protestos violentos eclodindo nos países ao longo dos Andes (Chile, Equador, Colômbia e Peru), a debacle continuada da economia da Venezuela e uma ressaca regional em razão dos preços baixos das commodities, matérias-primas que sustentam a lista de exportação da maioria dos países do continente.
Apontam que, mesmo com um crescimento mais forte no Brasil, a América Latina deverá expandir-se a uma taxa entre 1,2% e 1,8% no próximo ano, velocidade bem mais lenta que a de outros mercados emergentes e bem abaixo da taxa média de crescimento do continente nos últimos dez anos. O consumo interno deverá será o principal motor do crescimento latino, já que as exportações continuam deprimidas pela guerra comercial global.
A leitura econômica internacional é amplamente favorável ao presidente Jair Bolsonaro e à equipe econômica liderada por Paulo Guedes. Taxas de juros mais baixas, reformas estruturais favoráveis aos investidores e a disposição crescente das empresas e dos consumidores de gastar mais devem ajudar, afirmam especialistas nacionais e internacionais em publicações como Financial Times, Economist e The Wall Street Journal.
Os oráculos econômicos têm falhado com frequência nos anos recentes. Enamoraram-se de líderes políticos no México, na Argentina e no Chile que sucumbiram ante ao maior inimigo da região: a desigualdade crescente.
Dados do Banco Mundial sobre desigualdade informam que o Brasil é vice-campeão mundial de disparidade social, atrás apenas da África do Sul. A desigualdade aqui é quase o dobro da existente em países como EUA, Reino Unido e Suécia. Supera em muito a de vizinhos como Argentina, Chile, Colômbia e até mesmo Venezuela.
Se a retomada econômica limitar-se a dar mais para quem já tem muito, o Brasil dificilmente superará a divisão radical que enfrenta. Os empresários e investidores são aqueles hoje que melhor avaliam o governo Bolsonaro. Em contraposição, as faixas de renda mais baixas e de menor escolaridade, com especial ênfase entre moradores do Nordeste, são aquelas mais críticas ao primeiro ano bolsonarista. Sucesso econômico que não é traduzido em renda e emprego para a maior parte da população não pode ser chamado de sucesso. É apenas reserva de mercado para os mais ricos. E cedo ou tarde o jogo político reflete tal realidade.
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