Raquel Landim

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Opinião

Prejuízo da Petrobras fica escondido em meio à Olimpíada e debate eleitoral

A Petrobras divulgou nesta quinta-feira (8) à noite seu primeiro prejuízo desde 2020, quando as atenções estavam voltadas para o debate dos candidatos à prefeito nas capitais. O assunto, que seria manchete em todos os portais, acabou escondido nas páginas de economia.

A estatal registrou um prejuízo de R$ 2,6 bilhões no segundo trimestre deste ano, revertendo lucro líquido de R$ 28,8 bilhões no segundo trimestre de 2023. Foi também o primeiro balanço da gestão de Magda Chambriard, que assumiu sob a desconfiança do mercado.

A gestão da companhia defende que fatores financeiros extemporâneos levaram a esses resultados e que sua operação de extrair petróleo e vender combustível continua robusta e lucrativa.

Efetivamente as perdas foram provocadas por causas episódicas que tendem a não ser repetir, mas que são fruto de decisões não só econômicas, mas também políticas.

A primeira delas é a transação tributária de R$ 50 bilhões que colocou fim a pendências judiciais entre a Petrobras e a Receita Federal. As dívidas pesavam no balanço e eram classificadas como um risco "possível" - ou seja, a estatal podia ganhar ou perder.

O acordo foi considerado positivo para a Petrobras dentro da empresa e também no mercado, mas certamente reforçou o caixa do Tesouro num momento de fragilidade do governo federal para fechar as contas e cumprir a meta fiscal.

A segunda causa é o câmbio. Muitos motivos contribuem para a desvalorização do real diante do dólar: cenário internacional, fragilidade fiscal brasileira, declarações desastradas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

E a terceira causa foi um acordo coletivo selado entre a Petrobras e o sindicato dos petroleiros, que elevou a colaboração da estatal num plano de saúde de 60% para 70%. A FUP (Federação Única dos Petroleiros) sempre teve forte representatividade, mas sua influência é muito maior em governos do PT.

Em teleconferência com analistas nesta sexta-feira (9), Chambriard afirmou que "o resultado da Petrobras foi sólido e dentro do esperado". O mercado parece ter comprado a tese. As ações caíam 0,4%, enquanto o Ibovespa subia 0,9% - um descolamento que não pode ser considerado tão expressivo dado o tamanho do prejuízo.

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Analistas consultados pela coluna dizem que variáveis como geração de caixa, despesas operacionais e capacidade de investimento da empresa se mantém positivas, apesar da Petrobras ter segurado a gasolina e o diesel congelados por praticamente um ano dentro da sua nova política de "abrasileirar os preços".

Desde o desastre que levou a Petrobras ao posto de companhia mais endividada do mundo nos governos Lula e Dilma, a estatal focou na exploração de petróleo com custo baixo e se tornou muito rentável. Mas os planos são de voltar a investir em refino, fertilizantes, estaleiros, entre outros.

Na reunião ministerial realizada ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que quer a inflação baixa. Se esse tipo de ordem chegar à sede da Petrobras, não haverá muita margem para a estatal reajustar preços caso seja necessário.

No mercado de petróleo, vale sempre a máxima de que o melhor negócio do mundo é uma petroleira bem administrada, e o segundo melhor negócio do mundo é uma petroleira mal administrada.

Na avaliação do mercado, existem preocupações com indicações políticas para cargos estratégicos e com as promessas de novos planos de investimentos, mas a companhia ainda não desviou totalmente de rumo. A ver quanto tempo dura e quanto tempo ela aguenta se a rota mudar.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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